No ato bolsonarista realizado deste domingo (06), na Avenida Paulista, em São Paulo, um item inusitado ganhou protagonismo e virou símbolo da manifestação: um batom inflável gigante, em referência à cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, presa por pichar, com um batom, a estátua “A Justiça” em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), durante os ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023.
A cena de Débora escrevendo a frase “Perdeu, mané” — mesma expressão usada pelo presidente do STF, ministro Alexandre de Moraes, em uma abordagem policial no passado — viralizou nas redes sociais. À época se tornou uma das imagens mais marcantes da depredação da sede dos Três Poderes.
Dois anos depois, Débora se tornou símbolo da ala bolsonarista que pede anistia aos envolvidos nos atos antidemocráticos. Em prisão domiciliar e ainda sendo julgada, ela pode pegar até 14 anos de prisão, conforme o voto do relator Alexandre de Moraes, por crimes como associação criminosa armada, golpe de Estado e deterioração de patrimônio tombado.
O batom inflável exibido na Paulista foi produzido no mesmo estilo dos “pixulecos”, bonecos gigantes que se popularizaram durante os protestos pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, entre 2015 e 2016. Com quase três metros de altura, o objeto foi carregado por manifestantes como forma de denunciar o que chamam de “exagero judicial” nas penas aplicadas aos réus do 8 de janeiro.
“A Débora é o retrato do absurdo. Pichar uma estátua virou crime de golpe de Estado?”, disse uma das manifestantes, vestida de verde e amarelo e segurando um cartaz pedindo “liberdade para os patriotas”. A frase ecoa entre os participantes do ato, que acusam o STF de parcialidade e perseguição.
A manifestação deste domingo reune novamente o ex-presidente Jair Bolsonaro, políticos aliados, representantes de movimentos conservadores e apoiadores de diversos estados. No palco montado na Paulista, as falas concentraram críticas ao Judiciário, pedidos de anistia e defesa de uma revisão das decisões do Supremo. Em sua fala, Bolsonaro não citou diretamente o nome de Débora Rodrigues, mas voltou a pedir “justiça” para aqueles que, segundo ele, “não cometeram violência, mas estão pagando um preço alto demais por se manifestarem”.
O uso do caso de Débora como símbolo de resistência expõe as divisões profundas na sociedade brasileira sobre os acontecimentos de 8 de janeiro. Enquanto parte da opinião pública vê nos atos uma tentativa clara de golpe, apoiadores do ex-presidente tentam reverter a narrativa, apresentando alguns dos réus como vítimas de um processo judicial politizado. Débora Rodrigues, por sua vez, permanece em prisão domiciliar, aguardando decisão final do STF.
Correio Braziliense