A adolescente de 16 anos, acorrentada dentro de casa após denunciar um estupro pelo próprio irmão, perdeu a virgindade no crime e foi torturada pelos pais para dizer que a relação havia sido consensual, de acordo com a Polícia Civil. Os três suspeitos estão presos.
Segundo a investigação, o estupro aconteceu na casa da jovem, no Ibura, na Zona Sul do Recife, em novembro de 2023. A vítima tinha 15 anos na época do abuso. Já o agressor, que é irmão dela por parte de pai, tinha 18. Em depoimento, a jovem relatou que vinha resistindo às investidas do suspeito, com quem convivia amigavelmente desde a infância. No dia do crime, no entanto, ela foi agarrada à força por ele, tentou se defender e acabou arrastada para um dos quartos da casa.
“Ele manteve relação sexual contra a vontade dela”, afirma o delegado Geraldo Costa, titular da Delegacia Especializada de Crimes contra Criança e Adolescente (DECCA), responsável pela investigação.
Tortura e ajuda de fuga
Por não acreditar na denúncia da filha, a mãe decidiu prendê-la dentro de casa, com cadeado e correntes de aço. A adolescente era monitorada, ainda, por uma câmera de segurança durante o expediente dos pais. Só era solta para usar o banheiro e realizar afazeres domésticos.
Segundo a Polícia Civil, ela também foi submetida a sessões de espancamento, com golpes de fio de carregador de celular na região das coxas, para forçá-la a “confessar” que fez sexo por vontade própria. Para os investigadores, o crime de tortura teve anuência do pai.
A jovem passou uma semana acorrentada e foi desacorrentada após as marcas das agressões sumirem. “O caso parece da Idade Média, quando havia calabouços. A criança ficou acorrentada para não denunciar o abuso sexual do irmão paterno”, relatou o delegado Darlson Freire, gestor do Departamento de Polícia da Criança e do Adolescente (DPCA). “Parece um filme de terror”.
Em paralelo, os pais da adolescente ajudaram o suspeito de estupro a fugir. O acusado ficou escondido na casa de parentes em Escada, na Mata Sul de Pernambuco, a cerca de 60 quilômetros do Recife.
Investigação
Mesmo agredida e com o agressor acobertado, a adolescente sustentou ter sido vítima de abuso. A Polícia Civil diz que, diante da insistência da jovem em sustentar que foi forçada ao ato sexual, os pais teriam concordado em formalizar a denúncia de estupro em uma delegacia. A condição era a vítima não relatar que ficou presa e sofreu agressões em casa.
A perícia confirmou que houve “conjunção carnal”. Duas semanas depois de a investigação de estupro começar, a adolescente conseguiu acessar o celular da mãe e obteve imagens que comprovavam as agressões sofridas em casa. Ela recebeu ajuda de uma professora, que a acompanhou até a DECCA, para fazer a denúncia. Um novo inquérito foi instaurado para apurar as torturas.
Ao colher depoimento de testemunhas, os agentes descobriram que aquela não havia sido a primeira vez que a jovem foi castigada com correntes. Cerca de seis meses antes, os pais também a trancaram em casa após a notícia de que a jovem estaria namorando.
Prisão
Acusados de tortura, os pais foram presos preventivamente no dia 2 de agosto. À Polícia Civil, a mãe teria admitido os crimes. Já o pai pôs a culpa na esposa. Por sua vez, o irmão da adolescente responde pelo crime sexual e foi capturado na segunda-feira (19). Em interrogatório, ele optou por permanecer em silêncio. Com a família na cadeia, a jovem está sob os cuidados de uma tia.
Diário de Pernambuco