Funcionários públicos e governos vivem um impasse em diversas regiões do país e nas mais x esferas de poder. De um lado, os servidores cada vez mais insatisfeitos com seus salários que não aumentam. Apenas em 2021, a inflação foi de 10%, o que significa perder 10% do poder de compra do salário. Há servidores há anos sem reajuste.
Na outra ponta, os governos que afirmam não ter condições de dar aumentos, já que estão no vermelho. Para a maior parte dos estados, municípios e o governo federal, aumentar os salários significa aumentar o rombo das contas públicas.
“Este ano completaremos 8 anos sem reajuste”, diz Fausto Feitosa, presidente da Associação dos Servidores de Tecnologia da Informação de Pernambuco. “E este é um ano eleitoral, se não fecharmos a negociação nas próximas semanas, ficará somente para a próxima gestão, daqui a um ou dois anos”. A estimativa da associação é que a defasagem salarial já esteja em torno de 54%.
Neste momento em que o mundo caminha rumo à digitalização e precisa cada vez mais de especialistas em tecnologia, Pernambuco vê uma crescente fuga destes profissionais do setor público.
“Desde 2006, após dois concursos públicos, 269 pessoas tomaram posse como analistas de gestão. Destes, somente 130 estão ativos e temos mais 1 servidor saindo, irá morar e trabalhar em Portugal”, afirma Fausto.
Risco de apagão dos serviços públicos
A fuga de talentos acelerou durante a pandemia na área de tecnologia, inicialmente no setor privado, mas cada vez mais no setor público. Com o crescimento do home office, muitos profissionais passaram a ocupar inclusive postos de trabalho no exterior, onde há crescente carência de profissionais de tecnologia. Em 2017, o JC já abordava a dificuldade do setor de tecnologia da informação de preencher cargos.
O boom das startups na América Latina em 2021 é outro complicador. Os investidores injetaram mais de R$ 100 bilhões na região, um recorde. Especialistas estimam que a América Latina abrirá 10 milhões de novas vagas de emprego em TI até 2025, impulsionadas tanto por empresas locais quanto pela crescente demanda de organizações estrangeiras que procuram talentos mais baratos nos mesmos fusos horários das empresas dos EUA – uma prática chamada “nearshoring”, como aponta reportagem do Rest of World.
JC Online