Editorial – Fachin, a contenção que veio tarde demais

Nesta segunda-feira (16), o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, afirmou em alto e bom som que o STF deve atuar com “contenção”, respeitando os limites institucionais e evitando legislar ou ceder a pressões políticas. A fala aconteceu durante um evento em Brasília que marcou os 10 anos de sua posse na Corte.

À primeira vista, a declaração soa sensata e republicana. Mas, para quem acompanha de perto os bastidores do Judiciário brasileiro, causa espanto. Justamente Edson Fachin, o mesmo ministro que em uma só canetada anulou as condenações de Luiz Inácio Lula da Silva, permitindo seu retorno à cena política, agora prega sobriedade institucional?

Vale lembrar que Lula havia sido condenado em três instâncias distintas, num processo que, à época, seguiu todos os trâmites legais. Não houve absolvição. Não se provou inocência. O que Fachin fez foi questionar a competência territorial da Vara de Curitiba e do então juiz Sergio Moro, afirmando que não cabia àquela jurisdição julgar os processos do ex-presidente. Com esse argumento técnico — e não jurídico penal — o ministro limpou a ficha de Lula sem sequer enfrentar o mérito das acusações.

O resultado dessa decisão ainda ecoa no país. Fachin abriu caminho para a volta de Lula ao poder, sem que o povo pudesse ter uma resposta definitiva sobre a inocência ou culpa do então condenado. A anulação das condenações, sem julgamento do conteúdo dos processos, causou enorme frustração em boa parte da população e acirrou ainda mais a polarização política que divide o Brasil.

É curioso ver que, após tantos episódios em que o STF invadiu atribuições do Legislativo, derrubou leis aprovadas pelo Congresso e tomou decisões com forte impacto político, um dos protagonistas dessas ações agora fala em “limites institucionais” e prega contenção. A pergunta que fica é: por que não antes?

Não se pode apagar da história o papel que Fachin teve na reabilitação política de Lula. Sua decisão mudou o rumo das eleições, da política nacional e do próprio STF, que passou a ser cada vez mais cobrado pela sociedade.

Defender a contenção é correto e necessário. Mas não se pode esquecer que muitos dos atuais excessos do Judiciário brasileiro foram pavimentados por decisões como a de Fachin. Que seu discurso, ao menos agora, sirva como ponto de partida para uma verdadeira autocorreção da Suprema Corte. E que a justiça volte a se dar no tempo certo, de forma equilibrada, respeitando não só a letra da lei, mas também o sentimento de justiça do povo.

Waldiney Passos

EDITORIAL: PREVENÇÃO, O MELHOR REMÉDIO!!!

Desejo compartilhar com os leitores deste veículo uma experiência marcante que vivi em outubro de 2022. Naquele mês, tive um pico de Pressão Arterial (PA), procurei um médico, fui medicado, minha PA voltou ao normal e segui com minha rotina de trabalho. Até então, tudo parecia bem – sem dores, sem incômodos.

Porém, dois meses depois, ao retornar de uma viagem de férias, dirigindo meu automóvel por volta das 13 horas, percebi algo estranho: o tempo parecia escurecer repentinamente. Perguntei à minha esposa se ela também notava isso, mas ela disse que não. Seguimos viagem, mas essa sensação se repetiu várias vezes até chegarmos a Petrolina. A preocupação tomou conta de mim.

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Editorial: São João – cuidado redobrado com a saúde das crianças e idosos

O mês de junho chegou trazendo alegria, cores e tradições das festas de São João em todo o Nordeste. Mas, junto com os festejos, também chega um período que exige atenção especial com a saúde, sobretudo das crianças. O Hospital Dom Malan emitiu um alerta importante sobre o aumento expressivo dos casos de doenças respiratórias, como as chamadas Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAG).

De fevereiro a maio deste ano, mais de 4 mil atendimentos por doenças respiratórias foram registrados somente no Pronto Socorro Infantil (PSI) do Dom Malan. Os principais responsáveis por essas infecções são os vírus Influenza A e B e o Vírus Sincicial Respiratório (VSR), este último sendo o principal agente causador de infecções graves nas vias aéreas de crianças pequenas. O quadro é sério, e muitos casos evoluem para internações em leitos de terapia intensiva (UTI).

Os médicos do Hospital Dom Malan alertam os pais e responsáveis para os sinais iniciais das síndromes respiratórias em crianças. Segundo eles, os sintomas podem começar de forma leve, com coriza e febre, mas podem evoluir rapidamente para quadros mais graves, como cansaço excessivo, respiração ofegante, sonolência e desidratação. Diante desses sinais, a recomendação é buscar atendimento hospitalar imediato. Ainda em casa, é possível adotar cuidados como lavagem nasal, hidratação constante e o uso de analgésicos indicados por um profissional de saúde.

Além do cuidado com os sintomas, o foco principal deve ser a prevenção. E em tempos de festas populares, como o São João, isso exige atenção redobrada. É importante evitar expor as crianças a aglomerações, reduzir o contato com pessoas gripadas, manter uma alimentação saudável, garantir a hidratação constante e, acima de tudo, manter a caderneta de vacinação em dia, especialmente com a vacina contra a gripe (Influenza), que pode prevenir casos mais graves.

Neste período, também é essencial atenção à fumaça das fogueiras, que faz parte da tradição junina, mas que agrava quadros respiratórios. A exposição ao fogo deve ser evitada, especialmente por crianças e idosos, que são os mais vulneráveis a crises respiratórias.

Que este São João seja, sim, de muita alegria, forró e reencontros, mas que seja também de cuidado, proteção e prevenção. A saúde dos nossos pequenos deve estar em primeiro lugar. Com responsabilidade e atenção, é possível celebrar nossas tradições sem descuidar do bem mais precioso que temos: a vida.

Waldiney Passos

Editorial – O Governo Lula e o Monitoramento da Oposição: Um Flagrante Ataque à Liberdade

O que se espera de uma democracia madura é que o governo, qualquer que seja sua coloração ideológica, respeite a crítica, conviva com a divergência e valorize o contraditório. Mas o que está vindo à tona com o requerimento apresentado pelo deputado federal Kim Kataguiri (União-SP) é, no mínimo, alarmante e digno da mais dura condenação.

O parlamentar exige que o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) explique e entregue cópias dos relatórios produzidos pela chamada rede Minerva, gerida pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), uma instituição vinculada ao próprio ministério. A denúncia é clara: com um orçamento de mais de R$ 54 milhões, a rede estaria sendo usada para monitorar postagens de influenciadores e até deputados da oposição.

É disso que se trata: dinheiro público, oriundo do suor do contribuinte brasileiro, sendo usado para financiar uma máquina de vigilância política digna dos piores regimes autoritários da história. A quem interessa espionar parlamentares eleitos democraticamente? Qual o limite ético de um governo que se dispõe a gastar milhões para vigiar quem pensa diferente?

O presidente Lula, que tanto se diz vítima de perseguição política em sua trajetória, agora repete o mesmo roteiro que tanto criticou: usa a estrutura do Estado para bisbilhotar, vigiar e possivelmente tentar intimidar seus opositores. É um escárnio. O governo que se apresenta como defensor da democracia mostra sua face autoritária, escondida por trás de discursos populistas e falsos apelos à liberdade.

Não há qualquer justificativa plausível para que um ministério da área de ciência e tecnologia esteja investindo milhões para produzir relatórios sobre o que um deputado posta nas redes sociais. Isso não é combate à desinformação — é perseguição política travestida de tecnocracia.

O Congresso precisa reagir com firmeza. A sociedade precisa se mobilizar. Estamos diante de um atentado silencioso, sorrateiro, mas gravíssimo, contra a liberdade de expressão, a transparência institucional e o equilíbrio dos poderes. O governo Lula deve explicações à Nação — e, se confirmadas as denúncias, os responsáveis devem ser exemplarmente punidos.

Democracia não combina com vigilância política. E quem se vale do Estado para perseguir adversários não governa: ameaça.

Waldiney Passos

Editorial – Um marco no combate ao crime no Sertão: Gaeco Sertão é exemplo de ação firme e necessária

A inauguração do Núcleo Regional do Gaeco no Sertão, nesta sexta-feira (6), representa um avanço notável na luta contra o crime organizado em Pernambuco, especialmente nas regiões historicamente esquecidas pelas estruturas centrais de repressão. A decisão do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) de descentralizar e fortalecer o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado é não apenas estratégica, mas necessária diante do crescimento e sofisticação das organizações criminosas que atuam no interior do estado.

Com sede em Petrolina, o novo núcleo do Gaeco passa a dar suporte direto a 24 municípios das regiões do São Francisco, Sertão Central e Araripe. A iniciativa amplia a capacidade de investigação, resposta rápida e articulação com outras instituições, como as polícias Civil, Militar e Federal. E mais do que isso: envia uma mensagem clara de que o Sertão não está à margem da justiça, da inteligência e da segurança pública.

A criminalidade organizada não respeita fronteiras geográficas e tampouco se limita aos grandes centros urbanos. No Sertão, os grupos criminosos agem com ousadia, movimentam recursos, exploram fragilidades e desafiam o Estado. A presença do Gaeco em Petrolina, cidade-polo, estratégica e com conexões rodoviárias e fluviais, permitirá uma atuação mais enérgica e eficaz.

O Procurador-Geral de Justiça, José Paulo Xavier, acerta ao reconhecer que o enfrentamento ao crime exige modernização, tecnologia e descentralização. O investimento em inteligência, o rastreamento de crimes complexos como tráfico de drogas, armas e lavagem de dinheiro, além de parcerias para compartilhamento de dados, coloca o MPPE em sintonia com o que há de mais eficiente no combate à criminalidade.

Em tempos de avanço da violência e da sensação de impunidade, a criação do Gaeco Sertão é uma resposta que fortalece as instituições e devolve esperança à população. É dever da sociedade reconhecer e apoiar medidas que não apenas reagem ao crime, mas que se antecipam a ele, com estrutura, planejamento e presença firme onde for preciso.

Que essa iniciativa sirva de exemplo para outras regiões e inspire políticas públicas duradouras de segurança, justiça e cidadania. O povo do Sertão merece viver com dignidade e isso começa quando o Estado ocupa, com firmeza e legalidade, cada palmo do seu território.

Waldiney Passos

EDITORIAL: Os números da pobreza em Pernambuco: Menos propaganda, mais ação

Nesta segunda-feira (2), o governo do Estado de Pernambuco divulgou, com tom de celebração, os números da Pnad Contínua do IBGE sobre pobreza e extrema pobreza no estado. Os dados indicam que, em 2024, 40,3% da população pernambucana ainda vive em situação de pobreza e 6,3% está na extrema pobreza.

Apesar da narrativa oficial apontar para avanços – como a saída de 698 mil pessoas da pobreza e de 288 mil da extrema pobreza –, é impossível ignorar a gravidade do cenário atual: quase metade da população do estado ainda enfrenta privações severas, muitas vezes sem acesso adequado à alimentação, moradia digna, saúde e educação.

A gestão estadual associa a suposta melhoria ao crescimento econômico dos últimos 15 anos, ao aumento do emprego e à elevação da renda. Mas é preciso ir além da propaganda. O que vemos nas ruas, nas periferias, na zona rural e nos sinais de trânsito é um povo passando dificuldades enquanto a classe política vive cercada de privilégios, assessores, carros oficiais e discursos prontos.

Pernambuco, que em 2022 tinha 50,8% da população pobre e 12,2% na extrema pobreza, conseguiu uma redução importante em termos percentuais. Mas isso não pode servir de escudo para esconder o que salta aos olhos: a fome ainda ronda os lares mais humildes, crianças vão à escola com fome, famílias sobrevivem com auxílio insuficiente e muitos trabalhadores enfrentam jornadas exaustivas para garantir o básico.

Enquanto isso, milhões são gastos com publicidade institucional para “vender” um estado que só existe nos comerciais. É hora de menos marketing e mais políticas públicas reais, estruturadas, contínuas e transparentes. A população não quer números bonitos em relatórios; quer dignidade no prato, no bolso e na vida.

Pernambuco precisa, sim, reconhecer os avanços, mas precisa principalmente encarar a dura realidade social com seriedade, coragem e prioridade. Não basta criar programas para estatísticas — é necessário mudar realidades. E isso só acontece com planejamento, fiscalização, descentralização de recursos e, acima de tudo, compromisso com os que mais precisam.

A sociedade quer mais do que manchetes otimistas: quer ações concretas, imediatas e sustentáveis, que respeitem a dignidade do povo e combatam as desigualdades com responsabilidade, e não com promessas vazias ou propaganda disfarçada de informação.

Waldiney Passos

Editorial: Pernambuco registra aumento nas mortes no trânsito por causa do álcool!

Pernambuco acendeu um sinal vermelho. Dados recentes divulgados pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), com base em números oficiais do DataSUS e do IBGE, revelam um crescimento alarmante no número de mortes no trânsito relacionadas ao consumo de álcool. Em 2023, o Estado registrou 576 vítimas fatais nesses chamados sinistros de trânsito, uma alta de 11,4% em relação ao ano anterior.

A taxa de 6,4 mortes por 100 mil habitantes em Pernambuco é superior à média nacional, que ficou em 5,8. Essa é a maior taxa observada no Estado desde 2017 e deveria ser motivo de ampla mobilização. O que estamos vendo é o retorno de uma curva perigosa que, por anos, vinha caindo. Desde 2010, houve uma redução de quase 18% nas mortes por álcool no trânsito, mas agora, em 2023, a tendência voltou a subir e isso não pode ser ignorado.

É importante dizer que não se trata mais de acidentes, e sim de sinistros de trânsito, conforme definem o Código de Trânsito Brasileiro e a ABNT. Um sinistro é resultado de uma escolha, de uma imprudência, de um ato consciente como dirigir após beber.

O perfil das vítimas também chama atenção: 88% são homens, principalmente entre 18 e 34 anos, ou seja, jovens adultos em plena fase produtiva e com toda uma vida pela frente. São pais de família, trabalhadores, estudantes, filhos e irmãos que morrem em vias públicas por decisões que poderiam ser evitadas.

Este editorial é um alerta às autoridades de trânsito, à Polícia Rodoviária Federal, à AMMPLA, à sociedade civil e, sobretudo, a cada condutor. É urgente reforçar as blitzes, fiscalizações com bafômetro, campanhas educativas e penas mais duras para quem insiste em beber e dirigir. A omissão, agora, pode custar ainda mais vidas.

Pernambuco precisa reagir. Não podemos permitir que o volante se transforme em arma, alimentada pela irresponsabilidade e pelo álcool. Que esses números não sejam apenas estatísticas, mas um ponto de partida para ação e consciência.

Waldiney Passos

Editorial: A Transposição do Rio São Francisco — 18 anos de promessas e palanques

Nesta quarta-feira, 28 de maio, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, cumpre agenda no Sertão de Pernambuco. Ele visitará a cidade de Salgueiro, onde participa da cerimônia de assinatura da ordem de serviço para a duplicação da Estação de Bombeamento EBI-3, no Ramal do Salgado, uma extensão do Eixo Norte da transposição do Rio São Francisco. Antes do evento oficial, Lula fará uma visita técnica à estação.

A presença do presidente em mais uma solenidade ligada à transposição reacende um debate que, para muitos nordestinos, já se tornou um ciclo de frustrações: a promessa de que a água do Rio São Francisco chegaria de forma plena e contínua às regiões mais castigadas pela seca ainda não foi cumprida.

A ideia de transpor as águas do “Velho Chico” remonta ao século XIX, ainda no Império, sob Dom Pedro II, mas foi somente no governo de Lula, em 2007, que o projeto finalmente saiu do papel. À época, foi anunciado com pompa: um investimento de R$ 4,5 bilhões e a promessa de conclusão em 2012. A proposta era ambiciosa — construir mais de 700 quilômetros de canais, por meio dos eixos Leste e Norte, para beneficiar cerca de 12 milhões de pessoas em mais de 390 municípios dos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.

De 2012 a 2025 já se passaram 13 anos do prazo original, e a obra, iniciada há 18 anos, ainda não foi concluída de forma definitiva. O orçamento inicial já triplicou — hoje, estima-se que mais de R$ 14 bilhões tenham sido investidos, e os custos seguem aumentando. São quase duas décadas de atrasos, aditivos contratuais, disputas judiciais, paralisações e trocas de comando, enquanto a população aguarda por um recurso que, além de vital, foi transformado em instrumento político.

Durante o governo de Jair Bolsonaro, houve entregas importantes de trechos do Eixo Norte. Em eventos realizados no interior do Nordeste, o então presidente fez questão de mostrar a chegada da água em locais como Jati (CE), Sertânia (PE) e outras comunidades que, de fato, viram os canais ganharem vida. Ainda assim, mesmo após essas entregas, muitas regiões contempladas pelo projeto permanecem à margem da promessa: a água chega e vai embora, como aconteceu após a posse de Lula em 2023, quando denúncias de moradores e lideranças locais indicaram a suspensão da liberação da água em alguns pontos.

A duplicação da EBI-3, que será anunciada agora, não deixa de ser mais um capítulo dessa longa novela. Trata-se de uma estação de bombeamento localizada no Eixo Norte, importante para garantir pressão e continuidade do fluxo hídrico. A obra é necessária, mas não pode ser tratada como um novo marco. Não é a ampliação de estrutura que irá resolver a principal questão: a efetivação plena da distribuição da água prometida desde 2007.

O uso da transposição como palco político se tornou regra. Governos de diferentes colorações ideológicas a utilizam como vitrine, ignorando que a verdadeira entrega não se mede em palanques montados, mas na água que chega à torneira de quem sempre dependeu de carros-pipa, cacimbas e poços de baixa qualidade. A seca não espera por eleição.

É preciso responsabilidade, transparência e respeito. O Governo Federal deve explicações claras à população sobre o cronograma final da obra. É necessário garantir não apenas a infraestrutura física dos canais, mas também a manutenção, a gestão eficiente da água transposta e a implantação de sistemas que permitam a sua chegada aos pequenos municípios, vilarejos e comunidades rurais.

A transposição do Rio São Francisco foi vendida como o projeto mais ousado da história recente do Brasil no combate à seca. Hoje, ela representa o símbolo mais claro do fracasso da classe política em cumprir aquilo que prometeu. É inaceitável que, após tantos anos e bilhões gastos, ainda se inaugurem obras parciais, estações duplicadas, trechos inacabados, enquanto milhões seguem com sede.

É hora de transformar a transposição em um verdadeiro legado de dignidade e desenvolvimento, não em um eterno palanque. Porque quem tem sede, não pode esperar.

Waldiney Passos

Editorial: O Brasil mais enxuto e eficiente com o fim da reeleição e eleições unificadas

Comungamos integralmente com a proposta aprovada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado Federal que prevê o fim da reeleição para presidente, governadores e prefeitos, e a unificação das eleições em um único pleito a cada cinco anos. A proposta de emenda à Constituição, relatada pelo senador Marcelo Castro, é um passo corajoso e necessário para destravar o país de um ciclo vicioso que há muito tempo emperra a administração pública.

Sempre defendemos essa ideia. As eleições a cada dois anos criam um ambiente de instabilidade política e administrativa permanente. Quando o país começa a respirar depois de um processo eleitoral, já se prepara para outro. Campanhas quase contínuas desviam o foco do que realmente importa: governar. A máquina pública fica a serviço da manutenção de poder, e não da entrega de resultados.

O novo modelo, que prevê um mandato único de cinco anos sem possibilidade de reeleição, representa uma evolução institucional. Tira o peso do cálculo eleitoral da gestão. Um presidente, governador ou prefeito eleito saberá, desde o início, que terá um tempo limitado e único para deixar seu legado. Isso pode estimular decisões mais corajosas e menos populistas. É uma resposta direta à crescente fadiga do eleitorado com figuras que se perpetuam no poder — e muitas vezes esquecem para quem deveriam trabalhar.

Além disso, a proposta de unificar as eleições representa economia, organização e eficiência. Evitar dois grandes pleitos a cada quatro anos significa menos gastos públicos, menos paralisações na administração e mais coerência no planejamento nacional. Com um ciclo político sincronizado, o país poderá respirar e avançar com mais estabilidade.

A proposta, claro, ainda tem um caminho a percorrer: precisa ser aprovada em dois turnos no plenário do Senado, com pelo menos 49 votos, e depois seguir para a Câmara dos Deputados. Mas o apoio entre lideranças partidárias, inclusive de ex-presidentes, indica um amadurecimento político que merece ser saudado.

Sabemos que há resistência. O próprio presidente Lula já se posicionou contra a medida, assim como setores do governo. Mas essa não é uma pauta de governo, é uma pauta de Estado. Não se trata de punir ninguém, mas de modernizar o Brasil.

Se o texto for aprovado, prefeitos eleitos em 2028 terão mandatos de 6 anos, enquanto os eleitos a partir de 2034, assim como vereadores, deputados e o presidente da República, passarão a ter mandatos de 5 anos. Senadores, por sua vez, terão mandatos progressivamente ampliados até chegarem a 10 anos. É uma transição organizada, justa e necessária.

A proposta do senador Jorge Kajuru, com relatoria de Marcelo Castro, é um avanço civilizatório. Que o Senado e, depois, a Câmara tenham a coragem de romper com o modelo viciado atual. O Brasil não pode viver eternamente entre uma eleição e outra. É hora de fazer política pensando no povo e não na próxima campanha.

Waldiney Passos

Editorial – Moradores em situação de rua no centro de Petrolina: um problema social que exige ação imediata

É preciso dizer com todas as letras: a circulação de moradores em situação de rua no centro de Petrolina se tornou um grave problema social e urbano que precisa, urgentemente, de uma resposta concreta das autoridades competentes. Apesar de sabermos – e reconhecermos – que essas pessoas têm o direito de serem acolhidas com dignidade, o que vemos hoje é um completo abandono por parte do poder público no que diz respeito à organização e preservação dos principais espaços públicos da cidade.

O centro de Petrolina, cartão-postal do município, está tomado por essa realidade. As praças do Malan e Maria Auxiliadora, que deveriam ser espaços de convivência, lazer e contemplação, têm sido ocupadas por dezenas de pessoas em situação de rua, o que compromete não só a paisagem urbana, mas também a segurança dos pedestres, a mobilidade da região e o próprio comércio local. É comum encontrar comerciantes e clientes inseguros, assustados, com dificuldades de manter suas atividades diante do cenário que se impõe.

Na concha acústica, um dos pontos mais simbólicos da cidade, o retrato é ainda mais evidente. Quem passa ali entre as 6 e 9 da manhã, especialmente nos primeiros dias da semana, constata a cena: dezenas de pessoas dormindo no palco, em colchonetes improvisados ou no chão frio. Não estamos aqui relegando o direito dessas pessoas de serem acolhidas. Ao contrário: estamos cobrando que esse acolhimento aconteça de forma digna, estruturada, com assistência social, saúde, alimentação, abrigo, e acima de tudo, oportunidade de recomeço.

O que não pode continuar é a omissão. Não se pode fingir que o problema não existe. Cidades como Recife já enfrentam o mesmo drama, com o aumento expressivo do número de pessoas em situação de rua. É um problema de escala nacional, é verdade, mas que exige ações locais imediatas. E Petrolina, como uma das cidades mais importantes do Nordeste, não pode fechar os olhos para isso. Esperar que a situação piore ainda mais é compactuar com o abandono.

Este é um apelo, portanto, às autoridades municipais: que seja feito um plano emergencial, um projeto estruturado que preserve os espaços públicos e acolha os que precisam. Que haja um olhar técnico, social e humanizado, mas também com firmeza, planejamento e responsabilidade com o espaço urbano. A Catedral, símbolo de nossa fé e da identidade de Petrolina, merece estar em um ambiente digno, seguro e bem cuidado.

E é importante chamar atenção também dos vereadores da nossa cidade. A Câmara Municipal de Petrolina parece distante dessa realidade. Por que esse tema ainda não virou pauta prioritária nos discursos dos parlamentares? Onde estão os debates, as audiências públicas, os requerimentos que cobrem ações do Executivo para resolver o problema? Não se pode legislar de costas para a cidade.

A nossa sugestão é clara: que se elabore um projeto de acolhimento e reinserção dessas pessoas, com o envolvimento da Secretaria de Desenvolvimento Social, da saúde, de instituições religiosas, de ONGs e até mesmo do setor produtivo. É possível unir forças. O que não dá é continuar do jeito que está.

Petrolina precisa preservar sua imagem, sua funcionalidade urbana e, sobretudo, sua dignidade social. Que nossa observação, a título de contribuição, possa ecoar onde precisa: nas salas de decisão, nos gabinetes e, principalmente, na consciência de quem tem poder para mudar essa realidade.

Waldiney Passos

Editorial: Marco regulatório da EaD impõe aulas presenciais e limita cursos a distância

O decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 19 de maio de 2025, que estabelece o novo marco regulatório da Educação a Distância (EaD) no Brasil, representa uma inflexão significativa na política educacional do país. Ao extinguir os cursos 100% online e exigir atividades presenciais ou síncronas mediadas, o governo busca enfrentar as fragilidades que se acumularam na oferta desenfreada do EaD nos últimos anos .

A medida proíbe a oferta de cursos de graduação totalmente a distância, exigindo que pelo menos 20% da carga horária seja presencial ou composta por aulas síncronas mediadas. Além disso, cursos como Medicina, Direito, Odontologia, Enfermagem e Psicologia deverão ser ofertados exclusivamente no formato presencial, enquanto outras áreas da saúde e licenciaturas terão restrições específicas quanto à carga horária a distância.

A explosão de matrículas em cursos EaD, de 1,7 milhão para 4,9 milhões em oito anos, evidenciou a necessidade de regulamentação mais rigorosa. A falta de infraestrutura adequada, a precarização do ensino e a ausência de interação efetiva entre alunos e professores comprometeram a qualidade da formação em diversas áreas, especialmente na saúde e nas licenciaturas .

A introdução da modalidade semipresencial, que combina atividades presenciais, síncronas mediadas e a distância, visa equilibrar flexibilidade e qualidade. A obrigatoriedade de pelo menos uma prova presencial por unidade curricular, com peso maior na nota final, reforça o compromisso com a integridade acadêmica.

Embora as instituições de ensino tenham um prazo de dois anos para se adequar às novas regras, é fundamental que o processo de transição seja acompanhado de investimentos em infraestrutura, capacitação docente e suporte aos estudantes. A regulamentação é um passo necessário, mas sua eficácia dependerá da implementação cuidadosa e do compromisso de todos os envolvidos com a qualidade da educação superior no Brasil.

Em suma, o novo marco regulatório do EaD representa uma tentativa legítima de corrigir distorções e assegurar que a educação a distância cumpra seu papel de forma responsável e eficaz. A medida é um avanço na busca por uma formação acadêmica que una acessibilidade e excelência, preparando profissionais competentes para os desafios do mercado e da sociedade.

Waldiney Passos

Editorial – Gripe aviária acende alerta no Brasil e afeta exportações de frango

O assunto tomou conta das manchetes e precisa da sua atenção!

Vários países começaram a suspender a compra do frango brasileiro por causa da confirmação de um caso de gripe aviária (Doença de Newcastle), em uma granja no interior do Rio Grande do Sul.

A gripe aviária é uma doença que atinge as aves e se espalha com facilidade. Em humanos, é muito rara e, quando acontece, os sintomas são leves. O mais importante: a carne de frango que chega até você, nos mercados e açougues, é segura para o consumo, desde que seja bem cozida e venha de locais inspecionados.

Mas a notícia preocupa. O Brasil é o maior exportador de carne de frango do mundo. E com países como Argentina, Japão e África do Sul suspendendo temporariamente as compras, o impacto pode bater forte na economia, especialmente para os produtores da região Sul.

O governo federal já agiu: interditou a granja, sacrificou as aves doentes, reforçou a vigilância e está conversando com os países compradores para mostrar que o problema está isolado e sob controle.

Ainda assim, o caso serve de alerta: é preciso investir cada vez mais em fiscalização, saúde animal e segurança nas granjas. Isso protege a produção, garante o emprego de milhares de trabalhadores e evita prejuízos ao país.

Por enquanto, fique tranquilo: o frango está liberado no seu prato. Mas o setor precisa ficar atento para que uma notícia como essa não vire uma crise ainda maior.

Waldiney Passos

Editorial – Quando os poderes deixam de ser “independentes”

A relação entre os poderes da República volta ao centro do debate nacional. Nesta terça-feira, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, anunciou que entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal para tentar reverter uma decisão da Primeira Turma da Corte. A decisão manteve uma ação penal contra o deputado Alexandre Ramagem, mesmo após a Câmara aprovar um relatório suspendendo o processo.

Motta defende que os votos dos 315 deputados devem ser respeitados, reforçando que só há harmonia entre os poderes quando todos usam o mesmo “diapasão”, ou seja, quando atuam em sintonia. O pedido protocolado no STF busca suspender os efeitos da decisão da Primeira Turma, alegando que ela desrespeita a resolução da Câmara.

Por outro lado, o ministro Flávio Dino afirmou que a decisão do Supremo não fere a separação dos poderes. Segundo ele, a suspensão do processo contra Ramagem vale apenas para os atos cometidos após a diplomação como deputado — e não para os crimes anteriores, que ainda podem ser investigados.

Em meio a esse embate, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, falou em um evento nos Estados Unidos sobre a importância de se respeitar decisões políticas, desde que estejam de acordo com a Constituição. Segundo Gonet, no Direito nem sempre há uma única resposta correta, mas cabe aos aplicadores da lei respeitar as decisões do Parlamento quando elas se encaixam nos limites da Carta Magna.

E é aí que mora o ponto central dessa discussão: a democracia só se sustenta quando há equilíbrio e respeito entre os poderes. Nenhum pode se sobrepor ao outro. O Legislativo é legítimo quando representa a vontade popular, o Judiciário é legítimo quando aplica a lei com isenção, e o Executivo quando governa com responsabilidade e diálogo.

Mais do que um impasse jurídico, estamos diante de um alerta institucional. É preciso maturidade, autocrítica e, sobretudo, respeito mútuo. A democracia brasileira não pode se transformar em um tabuleiro onde cada poder tenta mover as peças de forma isolada. Ou jogamos juntos, dentro das regras, ou todos perderemos.

Waldiney Passos

Editorial – Atlas da Violência: enquanto Brasil reduz homicídios, Pernambuco registra aumento preocupante

O Atlas da Violência, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, trouxe um dado que merece atenção: o Brasil registrou, em 2023, o menor número de homicídios dos últimos 11 anos. Foram 45.747 assassinatos, com uma média de 21,2 mortes por 100 mil habitantes uma queda de 1,4% em comparação com 2022.

Aparentemente, é um dado positivo. Mas quando analisamos os detalhes, surgem alertas importantes. A redução nacional foi puxada por alguns estados que investiram em políticas de segurança baseadas em dados, com foco em inteligência, prevenção e presença efetiva do Estado. Porém, em nove estados brasileiros a taxa de homicídios aumentou, mostrando que a violência não recuou de forma uniforme.

E é aqui que o caso de Pernambuco merece destaque infelizmente, de forma negativa. O estado foi na contramão da tendência nacional, com alta de 8% nos homicídios em 2023. A situação é ainda mais preocupante quando se considera que Pernambuco já vinha enfrentando dificuldades no enfrentamento da criminalidade urbana e rural. A atual gestão estadual demonstra, mais uma vez, fragilidade em combater de forma eficiente a violência que atinge sobretudo as periferias, os jovens e as mulheres.

Outros estados com aumento expressivo foram o Amapá, com alta alarmante de 41,7%, e o Rio de Janeiro, com 13,6%. Também registraram crescimento: Alagoas, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

O estudo aponta que a redução nacional pode estar relacionada a fatores como o envelhecimento da população, acordos de não-agressão entre facções criminosas em algumas regiões e políticas locais mais eficazes. Mas isso não garante que o país esteja mais seguro no longo prazo. Sem políticas estruturais e de combate às causas profundas da violência como desigualdade, exclusão social, falta de acesso à educação e cultura , a queda pode ser apenas temporária.

Outro dado que precisa ser encarado com seriedade: a violência contra mulheres aumentou. Em pleno século XXI, o número de mulheres assassinadas subiu, em desacordo com o restante do país. O feminicídio segue como uma ferida aberta, que exige resposta imediata do poder público.

Pernambuco precisa de uma reorientação firme na política de segurança. A população quer mais do que estatísticas: quer viver sem medo. Que os números do Atlas sirvam de alerta e não de consolo.

Waldiney Passos

Editorial – A nova alta da Selic e o peso sobre os brasileiros

Mais uma vez, o Banco Central decidiu aumentar os juros no Brasil. A taxa Selic, que serve como referência para todas as demais taxas de crédito no país, subiu de 14,25% para 14,75% ao ano, atingindo o maior patamar desde julho de 2006, ainda no primeiro governo do presidente Lula. A decisão unânime do Comitê de Política Monetária (Copom) joga mais luz sobre uma realidade dura e recorrente: o custo de vida para os brasileiros continua a subir, enquanto o acesso ao crédito e ao consumo se estreita.

O argumento técnico do Copom é que a inflação segue pressionada por fatores externos, como a instabilidade econômica dos Estados Unidos e os desdobramentos da guerra comercial, além de um cenário fiscal interno ainda desajustado. Tudo isso é verdade. Mas a decisão, embora justificada do ponto de vista técnico, tem implicações diretas e profundas na vida real de quem trabalha, empreende e tenta manter as contas em dia.

Quando a taxa Selic sobe, o crédito encarece imediatamente. Juros de cartão de crédito, cheque especial, empréstimos pessoais e financiamentos de empresas ficam ainda mais altos. Isso freia o consumo, trava investimentos e afeta duramente o pequeno empreendedor, que depende de capital de giro para manter seu negócio funcionando. Para quem sonha com a casa própria ou precisa renegociar dívidas, o cenário é ainda mais desanimador.

Além disso, essa política de juros altos como forma de combater a inflação é, em muitos aspectos, uma solução preguiçosa, que penaliza a base da pirâmide social. Pouco se discute o impacto real das despesas públicas mal administradas, da corrupção que drena bilhões da educação, saúde e infraestrutura, ou da necessidade urgente de reformas estruturantes que tragam previsibilidade e eficiência à economia brasileira.

Enquanto isso, milhões de brasileiros seguem lutando para pagar contas básicas, comprar comida e garantir dignidade com salários que não acompanham a inflação real dos supermercados. A elevação da Selic, se por um lado ajuda a conter o avanço dos preços, por outro representa um freio no crescimento e no bem-estar da população mais pobre.

É preciso coragem política e visão de longo prazo para sair desse ciclo. O Brasil não pode continuar prisioneiro da lógica dos juros altos como única resposta à inflação. É hora de buscar soluções integradas, que envolvam responsabilidade fiscal, investimento em produtividade, fortalecimento da indústria nacional e educação financeira para a população.

Enquanto isso não acontece, quem paga a conta — como sempre — é o povo.

Waldiney Passos

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