Inelegibilidade de Bolsonaro abre disputa por sucessão na direita

A declaração de inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro na sexta-feira (30) deixou a direita brasileira órfã de seu líder mais proeminente e diante da obrigação de encontrar um sucessor. Ao inabilitá-lo politicamente por oito anos por “abuso de poder político”, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deixou Bolsonaro de fora das próximas eleições presidenciais de 2026.

A condenação se baseou em uma reunião com embaixadores em julho de 2022, durante a qual Bolsonaro atacou o sistema eleitoral com informações falsas, três meses antes de ser derrotado por Lula nas urnas. No entanto, o ex-presidente antecipou que planeja entrar com um recurso no Supremo Tribunal Federal (STF). Bolsonaro se tornou o primeiro ex-presidente a ser inabilitado pela corte eleitoral, após ter perdido por uma estreita margem de 1,8% para Lula, obtendo cerca de 58 milhões de votos, 400 mil a mais do que em 2018, quando foi eleito. Lula, no entanto, havia sido inabilitado nas eleições de 2018 após sua condenação na justiça comum, que depois foi anulada pelo STF.

“Hoje, no Brasil, o eleitorado de direita está consolidado e em busca de um líder, com Bolsonaro mais fraco, certamente haverá um herdeiro”, opinou Leonardo Paz, cientista político do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

 Uma “facada” 
Bolsonaro, de 68 anos, se referiu à condenação como uma “facada”, lembrando do atentado sofrido em 2019 quando era candidato à Presidência. Em tom irônico, assegurou que a corte eleitoral o converteu em um “cabo eleitoral de luxo”. “A gente vai continuar trabalhando. Não estou morto (…) Não é o fim da direita no Brasil”, disse o ex-capitão do Exército, pouco depois do veredicto. O Partido Liberal (PL), que o nomeou presidente honorário, quer que ele se converta em um puxador de votos nas eleições municipais de 2024, preparando o terreno para as presidenciais de 2026. Para isso, o ex-presidente pretende viajar pelo país e se manter ativo, com reuniões políticas e aparições periódicas.

“Ele precisa disso porque, agora, está fora do mapa eleitoral até 2030 e a política, por ser muito dinâmica, tende a liquidar lideranças que fiquem por muito tempo fora da disputa”, analisou Leandro Consentino, cientista político do Insper de São Paulo.  A condenação do TSE foi a primeira resolução desfavorável para Bolsonaro, que possui diversos processos contra ele na corte eleitoral e cinco investigações abertas no STF, que podem levá-lo à prisão, uma delas pelo seu papel como suposto instigador dos ataques de 8 de janeiro em Brasília. “É difícil dizer que a carreira política (de Bolsonaro) acabou, embora oito anos seja muito tempo e não saibamos se estará competitivo” até poder concorrer novamente, acrescentou Paz.

Bolsonarismo sem Bolsonaro?
Ainda é uma incógnita quem será o sucessor apontado por Bolsonaro, que elogiou alguns aliados, mas sem se comprometer com um nome para 2026. A imprensa local e analistas já iniciaram as apostas entre os nomes que surgem como favoritos a se converter no “herdeiro” político do ex-presidente. A imprensa local e analistas já iniciaram as apostas entre os nomes que surgem como favoritos a se converter no “herdeiro” político do ex-presidente.

Entre eles, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo); a ex-ministra da Agricultura e senadora Tereza Cristina (Progressistas), apoiada pelo influente agronegócio, e inclusive, uma solução caseira, Michelle Bolsonaro (PL), esposa do ex-presidente, que teve um papel central na campanha à reeleição de seu marido na tentativa de conquistar o eleitorado feminino.

Tarcísio de Freitas, como outros políticos próximos ao ex-mandatário, mostrou sua solidariedade nas redes ao assegurar que a “liderança do presidente @jairbolsonaro como representante da direita brasileira é inquestionável e perdura”. A saída de Bolsonaro do tabuleiro não representa necessariamente um enfraquecimento da oposição de direita a Lula, segundo analistas. “A direita para ter esse fortalecimento precisa marchar unida. Há uma profusão de nomes que não sabemos se vão firmar um compromisso para irem unidos em 2026. Precisa entender o que a urna vai dizer em 2024”, concluiu Consentino.

O PL de Bolsonaro continua sendo o partido com maior número de representantes no Congresso, de tendência conservadora e que já impôs a Lula derrotas significativas na agenda ambiental. E o eventual surgimento de um candidato forte que se distinga de Bolsonaro ao não incentivar, por exemplo, “condutas antidemocráticas”, poderia reduzir a rejeição, explicou Paz.

Agência France-Presse

Prestes a ser julgado por fake news, Bolsonaro volta a falar sobre vacina

A cinco dias de ser julgado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por ter espalhado mentiras sobre as urnas eletrônicas a representantes de embaixadas, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a divulgar desinformação que relaciona as vacinas contra a covid-19 ao acúmulo de grafeno no saco escrotal e nos ovários.

Sem apresentar comprovações científicas, Bolsonaro disse ter lido a bula do imunizante e concluiu que a vacina teria grafeno em sua composição. Essa substância se acumularia nos órgãos que produzem hormônios sexuais — o grafeno é produzido a partir da grafite, derivada do carbono; trata-se de uma camada muito fina bidimensional de átomos em forma de hexágonos.

A declaração foi dita durante um evento de filiação do PL na cidade de Jundiaí, em São Paulo. Ao lado de Bolsonaro, estava seu ex-ministro da Ciência e Tecnologia, o astronauta Marcos Pontes (PL-SP). Ele discursou sobre o uso do grafeno para o desenvolvimento econômico.

Bulas das vacinas

De acordo com as bulas das vacinas contra a covid-19 da Pfizer, Coronavac e Jansen, não há presença de grafeno em suas composições. A divulgação de notícias falsas sobre os imunizantes levou Bolsonaro a ser investigado em inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF). Em 2021, durante uma das ondas de contaminação pela doença, o ex-presidente associou a vacinação ao vírus da aids.

Julgamento

O julgamento de Bolsonaro no TSE irá decidir sobre sua inelegibilidade. Caso responda por abuso de poder político e dos meios de comunicação no TSE, Bolsonaro é acusado de veicular mentiras sobre o funcionamento das urnas eletrônicas a embaixadores durante a campanha eleitoral do ano passado.

Se o TSE decidir por torná-lo inelegível, Bolsonaro será o primeiro ex-presidente a perder os direitos políticos por decisão da Justiça Eleitoral decorrente de crimes praticados no exercício do mandato.

Correio Brasiliense

TSE nega pedido para tirar sigilo de investigação contra Bolsonaro

O ministro Benedito Gonçalves, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), decidiu nesta quinta-feira (13) negar pedido da defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro para retirar o sigilo da investigação que pode torná-lo inelegível.

O pedido foi feito após os advogados se queixarem da divulgação do parecer no qual o Ministério Público Eleitoral (MPE) pediu a inelegibilidade de Bolsonaro. A solicitação ocorreu no âmbito do processo que discute a legalidade do encontro do ex-presidente com embaixadores para criticar o sistema eletrônico de votação, em 2022.

Na decisão, o ministro disse que o sigilo das peças processuais é necessário para proteger as provas e que a própria defesa pode divulgar as informações que achar necessárias.

“Considerando-se que os sujeitos processuais foram relembrados, no despacho anterior, que é dever de todos preservar as informações sigilosas transcritas ou avaliadas nas referidas peças, conclui-se que os próprios investigados, se assim entenderem, poderão adotar as providências para assegurar que a divulgação pública de suas alegações finais observe essa diretriz, seja por meio de tarjamento ou de outra providência suficiente para a finalidade consignada no despacho”, decidiu.

O despacho foi proferido na ação de investigação na qual o PDT contesta a legalidade da reunião com embaixadores. O processo está na fase de alegações finais, a última antes do julgamento, que pode ocorrer no primeiro semestre deste ano.

Agência Brasil

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