É preciso dizer com todas as letras: a circulação de moradores em situação de rua no centro de Petrolina se tornou um grave problema social e urbano que precisa, urgentemente, de uma resposta concreta das autoridades competentes. Apesar de sabermos – e reconhecermos – que essas pessoas têm o direito de serem acolhidas com dignidade, o que vemos hoje é um completo abandono por parte do poder público no que diz respeito à organização e preservação dos principais espaços públicos da cidade.
O centro de Petrolina, cartão-postal do município, está tomado por essa realidade. As praças do Malan e Maria Auxiliadora, que deveriam ser espaços de convivência, lazer e contemplação, têm sido ocupadas por dezenas de pessoas em situação de rua, o que compromete não só a paisagem urbana, mas também a segurança dos pedestres, a mobilidade da região e o próprio comércio local. É comum encontrar comerciantes e clientes inseguros, assustados, com dificuldades de manter suas atividades diante do cenário que se impõe.
Na concha acústica, um dos pontos mais simbólicos da cidade, o retrato é ainda mais evidente. Quem passa ali entre as 6 e 9 da manhã, especialmente nos primeiros dias da semana, constata a cena: dezenas de pessoas dormindo no palco, em colchonetes improvisados ou no chão frio. Não estamos aqui relegando o direito dessas pessoas de serem acolhidas. Ao contrário: estamos cobrando que esse acolhimento aconteça de forma digna, estruturada, com assistência social, saúde, alimentação, abrigo, e acima de tudo, oportunidade de recomeço.
O que não pode continuar é a omissão. Não se pode fingir que o problema não existe. Cidades como Recife já enfrentam o mesmo drama, com o aumento expressivo do número de pessoas em situação de rua. É um problema de escala nacional, é verdade, mas que exige ações locais imediatas. E Petrolina, como uma das cidades mais importantes do Nordeste, não pode fechar os olhos para isso. Esperar que a situação piore ainda mais é compactuar com o abandono.
Este é um apelo, portanto, às autoridades municipais: que seja feito um plano emergencial, um projeto estruturado que preserve os espaços públicos e acolha os que precisam. Que haja um olhar técnico, social e humanizado, mas também com firmeza, planejamento e responsabilidade com o espaço urbano. A Catedral, símbolo de nossa fé e da identidade de Petrolina, merece estar em um ambiente digno, seguro e bem cuidado.
E é importante chamar atenção também dos vereadores da nossa cidade. A Câmara Municipal de Petrolina parece distante dessa realidade. Por que esse tema ainda não virou pauta prioritária nos discursos dos parlamentares? Onde estão os debates, as audiências públicas, os requerimentos que cobrem ações do Executivo para resolver o problema? Não se pode legislar de costas para a cidade.
A nossa sugestão é clara: que se elabore um projeto de acolhimento e reinserção dessas pessoas, com o envolvimento da Secretaria de Desenvolvimento Social, da saúde, de instituições religiosas, de ONGs e até mesmo do setor produtivo. É possível unir forças. O que não dá é continuar do jeito que está.
Petrolina precisa preservar sua imagem, sua funcionalidade urbana e, sobretudo, sua dignidade social. Que nossa observação, a título de contribuição, possa ecoar onde precisa: nas salas de decisão, nos gabinetes e, principalmente, na consciência de quem tem poder para mudar essa realidade.
Waldiney Passos