Ex-prefeito Isaac Carvalho é investigado por possíveis irregularidades no uso de R$ 1,6 mi enviados há 15 anos para Juazeiro

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por meio do Ministério do Esporte, protocolou, no dia 23 de setembro, uma ação junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) para apurar a aplicação de recursos federais repassados ao município de Juazeiro em dezembro de 2009 – ou seja, há quase 15 anos. Nessa época, a gestão municipal estava sob o comando de Isaac Carvalho, ainda pelo PCdoB.

De acordo com documentos obtidos pelo BNews, naquela época, o Governo Federal,  durante a gestão Lula II, enviou mais de R$ 1,6 milhão (R$ 1.618.262,00) para que a prefeitura municipal utilizasse os recursos para o fomento esportivo na cidade em benefício de aproximadamente cinco mil jovens.

O problema é que o Ministério do Esporte alega que ainda não recebeu a comprovação da regular aplicação dos recursos repassados pela União. Com isso, a pasta instaurou uma Tomada de Contas Especial (TCE) junto ao TCU para que o caso fosse apurado. Inclusive, o ex-prefeito Isaac Carvalho é citado nominalmente pela Corte.

O convênio foi firmado entre as partes no dia 18 de dezembro de 2009 e teve fim no dia 29 de julho de 2012, quase três anos depois. Só para efeito de comparação, os mais de R$ 1,6 milhão disponibilizados no período equivalem, atualmente, a mais de R$ 3,7 milhões em valores corrigidos pela inflação.

Um trecho do convênio diz que: “O projeto tem finalidade de propiciar o acesso à prática desportiva, por meio da implantação de núcleos de esporte educacional, de forma a promover o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes como fator de melhoria da sua qualidade de vida, em benefício a 5.000 (Cinco mil) crianças, adolescentes e jovens no município de Juazeiro do Estado da Bahia”.

O BNews procurou a assessoria de Isaac Carvalho que, por meio de nota, afirmou que o ex-prefeito não foi notificado pelo TCU sobre o caso, mas que prestará as informações que forem necessárias ao Tribunal e à opinião pública. A reportagem também procurou a prefeitura de Juazeiro, atualmente sob a gestão de Suzana Ramos (PSDB). No entanto, a gestão municipal não se posicionou até o fechamento desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestação.

BNews

TCU alerta governo e diz que há duplo risco para meta fiscal em 2025

O Tribunal de Contas da União (TCU) concluiu que as projeções do governo para o resultado primário em 2025 apresenta “duplo risco”, devido à possibilidade de frustrações de receitas e aumento das despesas obrigatórias.

O órgão chama atenção ainda para a limitação nas regras de contingenciamento de gastos. O alerta foi feito à equipe econômica em relatório que analisa o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2025, enviado pelo Poder Executivo em abril ao Congresso Nacional.

Os auditores do TCU avaliaram que as estimativas apresentadas no PLDO para 2025 referentes à receita primária líquida são “otimistas”, ficando de R$ 35,6 bilhões a R$ 50,7 bilhões acima das projeções feitas com base em dados do mercado. A discrepância nos dados explicaria os riscos de frustração de receitas no ano que vem.

Os técnicos também apontam que os aumentos das despesas primárias totais ultrapassam o limite de crescimento real de 2,5% ao ano permitido pelo arcabouço fiscal, o que leva à compressão dos gastos discricionários, com exceção das emendas obrigatórias e dos pisos mínimos constitucionais de saúde e educação. Estes últimos, apesar de estarem na categoria de discricionários, têm execução obrigatória.

O TCU aponta, inclusive, que as estimativas para a despesa discricionária líquida de emendas e mínimos constitucionais preveem uma queda de R$ 100,9 bilhões em 2024 para R$ 11,7 bilhões em 2028, uma redução de 88%. “Caso não haja alteração substancial na composição do gasto, a compressão daquelas despesas pode elevar o risco de shutdown da máquina pública ou aumentar o incentivo ao abandono da âncora fiscal trazida pelo RFS arcabouço fiscal”, menciona o relatório.

Os técnicos citam que a estimativa da dívida apresentada no PLDO 2025 parte da premissa de que a despesa, ao longo de todo o período, crescerá em ritmo inferior à receita. A projeção, no entanto, pode ser irrealista se não houver revisão das despesas obrigatórias ou das discricionárias vinculadas à receita, dizem.

O órgão destaca ainda que o projeto enviado pelo governo trata sobre revisão de despesas como foco na revisão e redução de benefícios irregulares, “mas sem mencionar propostas legislativas específicas para endereçar o desafio das despesas obrigatórias”.

O relatório aponta ainda que mirar o limite inferior do arcabouço fiscal como referência para o resultado primário e adoção de contingenciamento pode elevar o risco de descumprimento das metas fiscais, além de afetar a credibilidade das regras e comprometer a gestão das contas públicas no futuro. A estratégia já tem sido adotada pelo governo este ano.

O TCU aponta que a estratégia de mirar o limite inferior da banda, embora não seja ilegal, pode gerar ainda inconsistências a longo prazo na trajetória da dívida, a depender das projeções de resultado primário utilizadas nas estimativas.

Estadão Conteúdo