Noite dos Tambores Silenciosos reúne cerca de 40 nações de maracatu para celebrar a ancestralidade

O Pátio do Terço, no bairro de São José, no Recife, foi palco de um dos momentos mais marcantes da folia pernambucana na noite desta segunda-feira (3): a 61ª edição da Noite dos Tambores Silenciosos. O evento carnavalesco reuniu  cerca de 40 nações de maracatu de baque virado, entre grupos mirins e adultos, em um ritual de reverência à ancestralidade africana.

Esta foi a primeira vez em que a  cerimônia foi conduzida por Mãe Lu de Oxalá, Iyá-Kekere da Casa de Raminho de Oxóssi, e por Jorge de Bessen, babalorixá Jejê-Nagô. “Foi uma mistura de saudade e gratidão. Meu pai sempre me preparou para esse momento, mas estar aqui sem ele é difícil. Ao mesmo tempo, sinto sua energia em cada toque de tambor, em cada olhar que me cerca. Sei que ele está comigo, e isso me dá força para seguir honrando seu legado”, afirmou Jorge de Bessen. Para ele, este também foi um momento de conexão  espiritual, especialmente por suceder seu pai, Tata Raminho de Oxóssi, que por décadas esteve à frente do ritual e faleceu em 8 de dezembro do ano passado.

O ponto alto da cerimônia aconteceu à meia-noite, quando todas as luzes do pátio foram apagadas, e os tambores, que durante todo o carnaval ecoam em ritmos vibrantes, silenciaram por cerca de 30 minutos. Esse momento simboliza o respeito aos negros escravizados e a memória dos antepassados. Centenas de pessoas acompanharam o ritual em silêncio, que traz reflexão sobre a resistência da cultura afro-brasileira.

“Essa celebração não é apenas um ritual, é um compromisso com aqueles que vieram antes de nós. Carregar esse legado é uma grande responsabilidade, pois estamos aqui para honrar a memória dos nossos ancestrais, reforçar nossa fé e garantir que essa tradição continue viva para as futuras gerações. O silêncio dos tambores é um grito de resistência e de respeito à nossa história”, registrou Mãe Lu de Oxalá, Iyá-Kekere da Casa de Raminho de Oxóssi.

Durante o cortejo, tochas foram acesas e levadas até a porta da Igreja de Nossa Senhora do Terço, onde foram entoados cânticos em homenagem a Nossa Senhora do Rosário e à orixá Iansã, que simboliza o vento e a conexão entre os mundos espiritual e terreno. Em seguida, quatro pombas brancas foram soltas, representando a paz e a ligação com os espíritos dos ancestrais.

História

Criada na década de 1960, a Noite dos Tambores Silenciosos foi idealizada por Maria de Lourdes Silva, conhecida como Badia, moradora do Pátio do Terço. O evento nasceu como uma homenagem aos negros escravizados que passaram pelo local, que, no período colonial, serviu como mercado de escravizados e um dos primeiros espaços de prática do candomblé nagô em Pernambuco. Inicialmente, a cerimônia tinha um caráter teatral e era encenada pelo grupo de teatro Equipe. Com o tempo, tornou-se um dos rituais mais importantes do Carnaval do Recife, reunindo nações de maracatu e fiéis das religiões de matriz africana.

Com o passar dos anos, o ritual cresceu e se tornou um dos momentos mais emblemáticos da folia pernambucana, reunindo maracatus, lideranças religiosas e fiéis em um ato de fé e resistência. “Esse ritual sempre existiu. Antigamente, os negros celebravam a liberdade na segunda-feira de Carnaval. Hoje fazemos isso de forma ainda maior, mas mantendo o respeito e a fé dos nossos ancestrais”, destacou João Jhadyell, de 15 anos, que participou da cerimônia pela primeira vez como ogã, responsável por tocar os ilús, instrumentos sagrados do candomblé.

Diario de Pernambuco

Educação e cultura: projeto leva aula-espetáculo sobre maracatu para escolas públicas do Estado

Um projeto de aula-espetáculo denominado “Sotaque do Maracatu Nação no Baque do Trovão Vermelho” será promovido em quatro escolas da Rede Estadual de Ensino das regiões Metropolitana do Recife, Zona da Mata, Agreste e Sertão de Pernambuco. A ação ocorre entre esta terça (27) e a próxima quinta (29).

A dinâmica foi idealizada pelo Maracatu de Baque Virado Nação Encanto da Alegria, de Recife/PE, e busca levar para dentro do ambiente escolar ensinamentos sobre essa manifestação cultural.

Entre os assuntos, o grupo fala sobre os principais personagens, trajes e musicalidade, além de finalizar com uma apresentação para mostrar na prática essa vivência artística. A proposta é de uma aula diferente, participativa e formativa com uma das riquezas da diversidade cultural de Pernambuco, o maracatu de baque virado.

Ainda dentro da aula-espetáculo, em cada uma das cidades visitadas acontece um intercâmbio artístico com a participação de um grupo da cultura popular da região. Nesta circulação, a interação vai acontecer com o Afoxé Omo Inã, no Recife; o Maracatu de Baque Solto Canarinho de Ouro, em Carpina; o Papanguarte – Balé Popular de Bezerros, em Bezerros; e, o Boi Arcoverde, em Arcoverde.

“Essa atividade é uma rica oportunidade para mostrar na prática nossa diversidade cultural, como ela funciona e sua integração entre as manifestações. E tudo isso no território desses estudantes e professores, perto dos seus olhos e com a possibilidade de participar perguntando, dançando e/ou cantando ao lados dos brincantes”, ressalta o produtor geral e professor Clébio Marques.

O projeto Aula-espetáculo Sotaque do Maracatu Nação no Baque do Trovão Vermelho acontece por meio de incentivo do Funcultura, Fundarpe, Secretaria de Cultura e Governo de Pernambuco. A concepção, elaboração e produção geral é da Usina Produções.

Maracatu de Baque Virado Nação Encanto da Alegria

Fundado em 10 de dezembro de 1998, o Maracatu de Baque Virado Nação Encanto da Alegria comemora durante esta turnê de aula-espetáculo 25 anos de lutas e glórias. Verdadeiramente um “patrimônio vivo” de Pernambuco, a agremiação mantém o trabalho social, o registro e a preservação das expressões culturais e do carnaval pernambucano, do Maracatu Nação e da Cultura Popular e Tradicional em toda a sua plenitude.

O Maracatu Encanto da Alegria é conhecido como “Trovão Vermelho” por dois aspectos: Religiosamente, a patrona do Maracatu é a orixá lansã (Oyá), a senhora dos raios e trovões, e o baque é regido por Xangó, orixá do Mestre do Apito. Culturalmente é devido a energia do baque, das alfaias rufando. “Maracatu é trovão, maracatu transmite o som da terra”, já dizia o famoso percussionista Naná Vasconcelos (in memoriam).

Diário de Pernambuco

Noite dos Tambores Silenciosos é apoteose dos maracatus nesta segunda (12)

Este ano, o encontro Noite dos Tambores Silenciosos, que tradicionalmente acontece no Pátio do Terço, no bairro de São José, no Centro do Recife, completa 60 anos sendo símbolo da luta e da resistência do povo negro. Será nesta segunda-feira (12), a partir das 18h.

A Noite dos Tambores Silenciosos 2024 terá a presença de mais de 20 nações de maracatu de diversas regiões do Recife, que vão desfilar cores, brilhos e muita religiosidade. Neste ano, a celebração se iniciará no fim da tarde com o grupo infantil, a partir das 18h, com a presença da orixá Mãe Fátima de Oxum, que vai realizar a cerimônia dos Tambores Mirins. Após o encerramento das apresentações infantis, a cerimônia dará sequência com os Eguns. À 0h de segunda para terça de Carnaval ocorrerá o ponto alto da celebração, quando se apagarão as luzes do Pátio do Terço e pode-se ouvir cantos para o Orixá.

A Noite dos Tambores Silenciosos é uma tradição que começou com a devoção a Nossa Senhora do Rosário, santa católica branca que é padroeira da população negra, e derivou das irmandades religiosas criadas pelos negros no período colonial. No Recife, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos fica no Pátio do Terço, local onde havia intenso comércio de escravos.

Confira a programação da Noite dos Tambores Silenciosos:

Tambores mirim:
Maracatu cambinda africano
Maracatu mirim cambinda estrela do amanhã
Maracatu nação erê
Maracatu nação porto rico
Maracatu encanto do pina
Maracatu nação baque forte
Maracatu nação estrela dalva
Maracatu nação estrelar
Maracatu nação sol brilhante
Maracatu nação de oxalá
Maracatu de baque virado encanto da alegria
Nção do maracatu leão da campina

Nações adultas:
Nação do maracatu leão da campina
Maracatu baque virado gato preto
Maracatu baque virado nação tupinambá
Maracatu cambinda africano
Maracatu de baque virado oxum mirim
Maracatu nação estrela de olinda
Maracatu nação raízes de pai adão
Maracatu nação sol brilhante
Maracatu carnavalesco linda flor
Maracatu nação raízes de áfrica
Nação do maracatu porto rico
Nação do maracatu aurora africana
Nação do maracatu elefante
Maracatu nação baque forte
Maracatu nação cambinda estrela
Maracatu nação encanto do dendê
Maracatu xangô alafim
Maracatu de baque virado estrela dalva
Maracatu carnavalesco almirante do forte
Maracatu de baque virado nação encanto da alegria
Maracatu nação estrela brilhante do recife
Maracatu estrela brilhante de igarassu
Maracatu nação sol nascente
Maracatu nação tigre
Maracatu nação de oxalá
Nação do maracatu encanto do pina
Maracatu de baque virado nação de luanda
Afoxé omo obá dê
Afoxé ara

Folha PE