Processo eleitoral em escolas de Petrolina ensina crianças sobre democracia e liderança

O que era para ser uma simples eleição de representantes de turma, virou uma aula de cidadania para os estudantes das escolas municipais de tempo integral de Petrolina. O processo eleitoral, realizado com candidatos e eleitores entre 6 e 14 anos de idade, teve título de eleitor, urna eletrônica, cabine de votação e serviu para mostrar aos meninos e meninas a importância da democracia.

Durante o processo eleitoral, os candidatos formaram chapas e apresentaram propostas aos colegas, destacando pontos de melhoria na escola e sugestões para tornar o aprendizado mais eficiente. Respeito aos professores, funcionários e colegas também fez parte dos “programas de governo” dos concorrentes.

Estudante do 5º ano e candidata a líder de turma na Escola Municipal em Tempo Integral Anézio Leão, Marília Ribeiro Santos Lima destacou a importância do cargo. “Ser líder não é só um título, é um compromisso com a nossa turma e com a escola. Queremos ajudar a melhorar o ambiente e garantir que todos tenham voz”.

A Secretaria de Educação do Município enxerga o processo como “uma forma de fortalecer valores como solidariedade, cooperação e senso crítico, preparando os estudantes para desafios futuros dentro e fora do ambiente escolar”.  Ainda segundo a Secretaria, “as crianças passam a vivenciar o processo eleitoral, sendo estimulados a tomar decisões, trabalhar em equipe e desenvolver a liderança, contribuindo para a construção do projeto de vida dos estudantes e sua atuação responsável na sociedade”.

A escolha dos líderes de turma é feita duas vezes por ano. Após as eleições, os vencedores participam de reuniões coletivas, de rodas de conversa e conselhos de classe para discutir dificuldades e avanços, registrando tudo em suas agendas para acompanhamento dos professores e da gestão escolar.

G1 Petrolina

Pesquisadora vê “ataque à democracia” após aprovação de PEC na Câmara

A aprovação, na última quinta-feira (11), da Proposta de Emenda à Constituição (PEC 9/2023), que proíbe a aplicação de multas aos partidos que não tiveram o número mínimo de candidatas mulheres ou negros, representa um “ataque direto à democracia”. Essa é a avaliação da pesquisadora em sociologia Clara Wardi, assessora técnica do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea). Ela dedica-se à avaliação de políticas públicas, ao monitoramento legislativo e aos temas de gênero e raça.

Para Clara Wardi, o resultado é consequência de o Congresso ser majoritariamente conservador. Para ela, o resultado passa um “péssimo recado” para a sociedade em relação aos direitos das mulheres e “principalmente das mulheres negras”.

A assessora técnica da Cfemea entende que a PEC é um exemplo de “violência política institucional contra as mulheres e as pessoas negras”. “Expõe as limitações e dificuldades que os partidos têm em impulsionarem essas candidaturas”. Ela lamentou ainda que a PEC teve uma aprovação sem dificuldades. “Não é a primeira vez que uma anistia desse tipo é feita”.

Clara Wardi considera ainda que, nos últimos oito anos, as leis 13.165, de 2015, a 13.831, de 2019, e também a PEC-18 de 2021 acabaram eximindo partidos do compromisso com as candidaturas de mulheres, “como essa proposta que foi aprovada agora”.

“Misoginia e racismo”
A pesquisadora entende que o resultado demonstra que a “misoginia” e o “racismo” estão “entranhados” nos representantes da Câmara. Para a pesquisadora, a Câmara dos Deputados e o Senado deveriam ser casas legislativas que representassem a população. “Não à toa, a gente se depara com uma série de projetos que visam retroagir com os direitos das mulheres e da população negra já conquistados”.

Clara Wardi não acredita que o resultado poderá ser revertido no Senado porque há uma disposição majoritária dos partidos para que a PEC seja também aprovada na Casa. Na Câmara, a votação aprovou em dois turnos. No primeira, foram 344 votos favoráveis, 89 contrários e 4 abstenções. Na segunda votação, foram 338 votos favoráveis e 83 contrários, com 4 abstenções. No Senado, também são necessárias duas votações, com mínimo de 49 votos dos 81 senadores.

“Nada fácil”
A pesquisadora considera que, antes da votação no Senado, movimentos sociais farão manifestações de resistência contrárias à PEC, particularmente ligadas às mulheres feministas a aos movimentos da população negra. “As organizações da sociedade civil que defendem a democracia estão muito atentas à questão eleitoral”. Ela entende que existe um esforço coletivo para confrontar PEC.

“Por outro lado, há uma articulação partidária muito forte, inclusive de partidos considerados progressistas, para que essa PEC caminhe. As trincheiras nessa disputa em torno da PECnão estão nada fáceis para os movimentos sociais”.

Ela avalia que essa decisão faz parte de um contexto de ofensivas contra os direitos das mulheres, como o que ocorreu em relação ao projeto de lei 1904, que previa a equiparação do aborto ao homicídio.

Agência Brasil