Espólio de Paulo Câmara no governo tem caixa bom, mas pobreza e emprego desafiam novo governador

Agora que o governador Paulo Câmara já definiu com o ex-presidente Lula o arranjo político que assegura o apoio do seu partido ao candidato do PT à presidência, cabem dois reais de conversa do que ele vai entregar ao sucessor no comando do Estado, uma vez que ficará para entregá-lo ao eleito.

E se isso anima os candidatos da oposição, pelo que uma eventual vitória alavancaria na carreira do próximo governador, para um correligionário é uma perspectiva extraordinária, pelo que poderá realizar em termos de obras em quatro anos.

É verdade que, do ponto de vista econômico, o governo, que na gestão atual promete investir R$ 5 bilhões até dezembro, não tenha comunicado um projeto que informe claramente onde Pernambuco quer estar em 2030, por exemplo, isso não quer dizer que não possa fazê-lo ou que não exista.

Talvez, pelo cenário que encontrou em 2015, no meio de uma crise provocada por Dilma Rousseff, que o obrigou a catar centavos no caixa. Talvez, pela herança de contas que Eduardo Campos, que pagou sem reclamar. Talvez, pelo desafio administrativo de cuidar da gestão da máquina e gerir uma pandemia, ele sequer tenha pensado em desenhar um projeto de Estado mirando o futuro.

Pode-se dizer que Paulo Câmara não tenha tido a capacidade de “embalar” o pacote de projetos que ajudou a montar e que o Estado toca. Mas ele existe e a condição econômico-financeira permite que se possa organizar um discurso de longo prazo. E é esse espólio que ele vai entregar ao seu sucessor.

Em agosto ele até que tentou. Lançou o Plano Retomada que mira em quatro eixos: investimento público, investimento privado, ambiente de negócios e pessoas e crédito. Segundo o governador, até o final de 2022, o Estado vai aplicar R$ R$ 5 bilhões na iniciativa. Seja qual for o eleito, o desafio do próximo governador, na prática do dia a dia, será cuidar de três temas recorrentes.

A questão da segurança, ou da chamada sensação de insegurança, que o trabalho na SDS não consegue acabar, o grave problema de serviços de infraestrutura, no qual a questão das estradas é a maior expressão como projeto da triplicação da BR-232, no acesso ao Recife, o Arco Metropolitano, outras rodovias incluídas no programa Caminhos de Pernambuco

Finalmente, a questão da pobreza de uma parte dos pernambucanos, decorrente da falta de renda e de empregos, que nos coloca no segundo lugar entre os estados com maior número de famílias no Auxílio Brasil.

Um levantamento do site Poder 360 revela que três estados no Nordeste (Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco) registram mais empregos formais com carteira que benefícios no programa Bolsa Família (o que exclui setor público).

Em 10 Estados das regiões Norte e Nordeste o atual Auxílio Brasil é a maior fonte de receita formal. Na Região Norte Tocantins, Rondônia e Roraima o antigo PBF lidera.

Importa pouco o governo comemorar performance no Caged. Em 2021 Pernambuco criou 89.697 novos postos de trabalho com carteira assinada em 2021, maior alta dos últimos dez anos, segundo dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social.

A maior alta de contratações havia sido registrada em 2011, quando foram preenchidas 95.627 vagas. A questão da fome, agravada pela falta de renda, especialmente depois do coronavírus, inviabiliza qualquer discurso de que o Estado está gerando emprego suficiente para os pernambucanos.

O esmo estado que é o foco das grandes corretoras de valores mobiliários, que estimam ter aplicações de R$ 10 bilhões de pessoas físicas residentes, é o mesmo que está no topo dos indicadores de baixa renda e acesso à alimentação.

É uma situação inusitada. Pela sua condição geográfica, programa de incentivos fiscais para CDs de distribuição de alimentos e indústria alimentícia, Pernambuco convive com situações em que ir à escola é ter a chance de comer três vezes ao dia. De acordo com a Secretaria de Educação e Esportes, 75% das escolas de ensino médio passam a ser integrais em 2022.

Talvez seja o maior desafio do próximo governador: desenhar o futuro enquanto tenta melhorar o presente na mesa dos cidadãos. Sabendo que não pode falar que o caixa do governo vai bem, quando parte dos pernambucanos convive com a fome.

JC Online

Governadores vão debater reforma da Previdência

(Foto: Internet)

Após ser pego de surpresa com a decisão do presidente Michel Temer (PMDB) de repassar parte da reforma previdenciária para os Estados, o gover­­­­nador Paulo Câmara (PSB) se prepa­­­­ra para discutir o projeto com chefes do Executivo estadual de todo o País.

O gestor chegou a externar, publicamente, que faltava diálogo no debate sobre os pontos da reforma que tramita no Congresso Nacional. A expectativa, a partir de agora, é ampliar o diálogo.

Os gestores do Nordeste planejam uma reunião no começo de abril. Os administradores estaduais de todo o País deverão se encontrar, em Brasília, para debater o impacto da proposta nos Estados. Segundo o gestor, a reforma chegou em um ponto onde foram envolvidas muitas controvérsias e é preciso repensar as mudanças.

“É preciso ver o que vai acontecer, a reforma está em um momento que precisa da reavaliação de tudo. É uma reforma que abrange todas as pessoas. Não é uma coisa que possamos fazer só pensando no imediato, vai exigir de cada um de nós um diálogo. É preciso definir qual o formato disso e nós estamos junto com os governadores buscando encontros, justamente, para discutir isso tanto no âmbito do Nordeste como também em nível nacional”, relatou, após o terceiro seminário do programa Pernambuco em Ação, em Arcoverde, no Sertão do Moxotó, no último sábado.

LEIA MAIS