Papa conclui viagem à França com missa multitudinária em Marselha

O papa Francisco oficiou, neste sábado (23), uma multitudinária missa, ao fim de uma breve visita a Marselha (sudeste da França), de onde pediu à Europa “responsabilidade” para com os migrantes e denunciou o “fanatismo da indiferença”. A bordo de seu papamóvel, o pontífice argentino foi recebido no Estádio Vélodrome sob aplausos dos milhares de fiéis presentes – as autoridades esperavam em torno de 57.000 pessoas – e gritos de “Papa Francisco!”, após percorrer as ruas da cidade mediterrânea.

“Bom dia, Marselha, bom dia, França”, disse ele aos presentes, incluindo o presidente francês, Emmanuel Macron, sua esposa, Brigitte, e a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde. “Viemos de longe, mas era importante estarmos aqui, porque estaremos em comunhão com toda a comunidade religiosa, católica”, disse à AFP Aurea Dias Neto, uma mulher de 52 anos, nascida em São Tomé e Príncipe, mas que vive no centro da França.

A liturgia, com orações lidas em vários idiomas, incluindo espanhol, armênio e árabe, concluiu uma viagem de dois dias do líder católico à segunda maior cidade da França, por ocasião do encerramento dos Encontros Mediterrâneos entre jovens e bispos dos países costeiros. Diante da multidão, o jesuíta, de 86 anos, pediu, mais cedo, “responsabilidade europeia” para enfrentar o “fenômeno migratório”, após denunciar na véspera o “fanatismo da indiferença” para com os migrantes. “Quem arrisca sua vida no mar não invade, busca acolhida”, reiterou o pontífice argentino, para quem o “fenômeno migratório” é um “processo” que “envolve três continentes em torno do Mediterrâneo”.

Sua viagem acontece dias depois de cerca de 8.500 migrantes terem chegado à pequena ilha italiana de Lampedusa, após cruzarem o Mar Mediterrâneo. Nele, mais de 28.000 migrantes desapareceram desde 2014, em sua tentativa de chegar à Europa, procedentes da África, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM). Desde sua eleição como sumo pontífice em 2013, uma de suas prioridades tem sido alertar sobre as tragédias dos migrantes, do Mediterrâneo à América Central, ou à Venezuela, passando por África, Oriente Médio, Europa, ou Estados Unidos, e pedir sua acolhida.

Seus novos apelos se dão em um contexto cada vez mais hostil para esses exilados na Europa. Exemplo disso, a França anunciou, por meio de seu ministro do Interior, Gérald Darmanin, que “não acolherá” ninguém de Lampedusa. O presidente francês, Emmanuel Macron, conversou por cerca de meia hora com o papa neste sábado. Os dois conversaram sobre a questão migratória e Macron expôs ao papa seus planos sobre um projeto relativo à eutanásia que deve ser apresentado “nas próximas semanas”, informou a Presidência francesa. Pouco antes, o papa havia advertido contra a “perspectiva falsamente digna de uma morte doce”.

O pontífice insistiu em sua oposição à eutanásia durante a viagem de volta à Cidade do Vaticano: “Não se brinca com a vida! Não se brinca com a vida, nem no princípio nem no final!”, declarou durante coletiva de imprensa no avião. O governo francês prepara um projeto de lei que poderia incluir a “ajuda ativa para morrer” para pessoas muito idosas. Sua apresentação está prevista para as próximas semanas.

Sua visita também foi acompanhada de polêmica na França. A oposição de esquerda criticou a presença de Macron e de sua mulher, Brigitte, na missa, ao considerar que “atropela” a neutralidade religiosa. Macron é o primeiro presidente, desde Valéry Giscard d’Estaing, em 1980, a assistir a uma missa papal. Batizado católico aos 12 anos e educado nos jesuítas, Macron é um presidente sensível à espiritualidade e atualmente se define como agnóstico. “Considero que meu lugar é assistir. Não irei como católico, mas como presidente”, defendeu-se, na semana passada.

O historiador Jean Garrigues rejeita as críticas sobre um atentado ao secularismo e explica que “existe uma tradição de presidentes católicos, crentes e até praticantes”, do general Charles De Gaulle a Nicolas Sarkozy.

AFP

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