Disputa pelo tráfico de drogas pode ter motivado chacina no Recife; pai e filho estão entre vítimas

Para a Polícia Civil de Pernambuco, a morte de sete pessoas, sendo três da mesma família, na madrugada deste domingo (12), no Alto do Reservatório, em Nova Descoberta, Zona Norte do Recife, pode ter sido motivada pela disputa pelo tráfico de drogas na área. “Essa é a nossa linha mais forte de investigação até o momento”, afirmou o delegado Ivaldo Pereira, diretor da Diretoria Integrada Especializada (Diresp).

De acordo com o delegado, nem todos os sete eram alvos diretos dos criminosos. As vítimas identificadas pela Polícia são Valdeci Sebastião da Silva, 51 anos; Cláudio José da Silva, 43 anos (irmão de Valdeci); Luiz Fernando da Silva Barbosa, 25 anos (filho de Valdeci); Silvânio José da Silva, 36 anos; Luiz Herculano Alves Filho, 40 anos; Cleiton José Bento, 41 anos; e José Carlos Gomes Bezerra, 37 anos.

“Como os autores chegaram lá e encontraram alguns, eles resolveram matá-los e ceifar todos que estavam ali, em uma queima de arquivo. Foi um crime brutal, injustificável, que a Polícia se compromete em dar em uma resposta rápida e eficiente”, afirmou o delegado.

Questionado sobre o histórico das vítimas, o delegado confirmou que, entre os sete mortos, dois tinham antecedentes criminais — um por homicídio e outro por estupro. Ele também destacou que nenhum estava envolvido em roubo. “Segundo colaboradores da investigação, eles eram pessoas que trabalhavam e se reuniam naquele imóvel para consumir drogas”, disse.

No imóvel, foram encontrados utensílios relacionados ao uso de entorpecentes, como balança de precisão, pratos com resíduos de “pó virado”, descrito pelo delegado como a mistura de crack com ácido bórico, giletes e outros objetos.

Investigação

Através de imagens de videomonitoramento de uma residência próxima ao local da chacina, a polícia confirma que dois carros participaram do ato, mas não informou quantas pessoas estiveram envolvidas.

“Aproveitamos o espaço para convocar toda a população a contribuir, seja presencialmente, prestando depoimentos, ou por meio dos nossos canais de denúncia. Garantimos que a identidade de todos será preservada. Esse apoio é fundamental para que possamos dar uma resposta à altura a esse crime brutal”, concluiu o delegado.

Diário de Pernambuco

Oficiais da PM comandaram chacina em Camaragibe e mulher foi torturada para atrair vítimas para emboscada, diz MPPE

A chacina que deixou nove mortos, incluindo seis pessoas da mesma família, em Camaragibe, no Grande Recife, foi comandada por oficiais da Polícia Militar, segundo denúncia encaminhada à Justiça pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE). De acordo com o órgão, policiais militares armaram uma emboscada para matar os irmãos de Alex Barbosa da Silva, o atirador suspeito de assassinar dois PMs durante tiroteio na mesma noite, e torturaram psicologicamente a esposa de um deles para atrair as vítimas. A execução, que ocorreu na madrugada de 15 de setembro do ano passado, foi transmitida por uma delas numa rede social.

A TV Globo teve acesso à integra do documento, que detalha as ações dos agentes envolvidos no caso. Ao todo, 12 PMs foram denunciados por participação nos crimes e viraram réus nesta semana. Segundo a denúncia, após a troca de tiros que resultou na morte dos policiais Eduardo Roque Barbosa de Santana e Rodolfo José da Silva no bairro de Tabatinga, os PMs iniciaram uma caçada a Alex e aos parentes dele.

O documento informa ainda que os tenentes-coronéis Marcos Túlio Gonçalves Martins Pacheco e Fábio Roberto Rufino da Silva conduziram uma reunião com outros denunciados e policiais não identificados num local próximo à Faculdade de Odontologia de Pernambuco. Eles foram “orientados e autorizados”, conforme a denúncia, a comparecer à reunião “em veículos sem placas, utilizando balaclavas, fortemente armados”.

“Na ocasião, foram compartilhadas informações a respeito de parentes de Alex Samurai (como era conhecido o atirador), bem como sobre este, após o que foram repassadas as instruções e o planejamento da ação homicida entre os presentes na reunião. (…) Os denunciados Marcos Túlio e Fábio Rufino participaram ativamente das trocas de mensagens entre os policiais”, afirma o MPPE na denúncia.

Ainda segundo o documento, os PMs Paulo Henrique Ferreira Dias, Leilane Barbosa Albuquerque, Emanuel de Souza Rocha Júnior, Dorival Alves Cabral Filho, Fábio Júnior de Oliveira Borba, João Thiago Aureliano Pedrosa Soares e outros policiais armados, ainda não identificados, localizaram e torturaram psicologicamente a esposa de Amerson da Silva, um dos irmãos de Alex, para atrair as vítimas.

A denúncia afirma ainda que os policiais Janecleia Izabel Barbosa da Silva e Eduardo de Araújo Silva deram cobertura, enquanto os PMs Diego Galdino Gomes e Cesar Augusto da Silva Roseno espancaram um motorista de aplicativo, acreditando que ele sabia o paradeiro de Alex.

“Os denunciados (…), infligindo grave sofrimento psíquico àquela, fizeram-na atrair seu esposo, a vítima Amerson, por telefone, até a Rua São Geraldo, próximo a sua residência, para onde os denunciados foram ao encontro deste último, a fim de assassiná-lo”, relatou o MPPE.
Também segundo o documento, os policiais avistaram o carro de Amerson chegando ao local e mandaram a vítima e os outros dois ocupantes do veículo, os irmãos Agata Ayanne da Silva e Apuynã Lucas da Silva, descerem do automóvel e os assassinaram sem dar chance de defesa.

Justiça aceitou denúncia

A denúncia foi aceita na quinta-feira (8) pela pela juíza de direito Marília Falcone Gomes Lócio. Dos doze policiais tornados réus, cinco tiveram prisão preventiva decretada:  Paulo Henrique Ferreira Dias; Dorival Alves Cabral Filho; Leilane Barbosa Albuquerque; Fábio Júnior de Oliveira Borba; Emanuel de Souza Rocha Júnior.

Os outros sete vão responder em liberdade, mas devem cumprir medidas cautelares, sendo afastados das funções na Polícia Militar e proibidos de entrar em contato com as testemunhas do processo. São eles: Marcos Túlio Gonçalves Martins Pacheco; João Thiago Aureliano Pedrosa Soares; Fábio Roberto Rufino da Silva; Diego Galdino Gomes; Janecleia Izabel Barbosa da Silva; Eduardo de Araújo Silva; Cesar Augusto da Silva Roseno.

De acordo com a Primeira Vara Criminal da Comarca de Camaragibe, foram expedidas intimações contra todos os 12 acusados, para que ofereçam defesa por escrito em resposta à denúncia do Ministério Público de Pernambuco (MPPE).

O que dizem as defesas dos acusados

O advogado da Associação Pernambucana dos Cabos e Soldados, Cezar Souza, atua na defesa do tenente-coronel Fábio Roberto Rufino da Silva e enviou uma nota para a TV Globo. No texto, disse que: “O devido processo legal, se faz dentro dos autos, e, portanto, nos resguardamos ao direito à devida manifestação em momento oportuno, e somente após avaliarmos todas as peças e provas constantes nos autos do processo”;

“A publicidade dada pelo Ministério Público Estadual à denúncia, publicada em seu site no dia 7 de março de 2024, deu-se de maneira indevida, uma vez que, os autos e todos os ritos das investigações deram-se em segredo de Justiça”;
Expressa “repúdio à quebra de sigilo do processo”. Também em nota, os advogados Nestor Távora e Nelson Barreto, responsáveis pela defesa de Fábio Júnior de Oliveira Borba, declararam que acreditam na inocência do acusado porque “ele não concorreu para os graves crimes investigados, o que será demonstrado no decorrer do processo”.

O advogado de Janecleia Izabel Barbosa da Silva afirmou à TV Globo que vai se manifestar apenas quando tiver acesso à denúncia.
O g1 tenta localizar as defesas dos outros nove policiais militares denunciados pelo MPPE, mas não conseguiu entrar em contato com os advogados desses PMs até a última atualização desta reportagem.

PMs são acusados de executar parentes

De acordo com a denúncia, feita pelo MPPE, entre os PMs denunciados, que foram presos em operação realizada em dezembro do ano passado, estão os atiradores encapuzados que mataram os irmãos de Alex: Agata Ayanne da Silva, de 30 anos; e Amerson Juliano da Silva e Apuynã Lucas da Silva, ambos de 25 anos. O ataque foi transmitido ao vivo por uma das vítimas numa rede social.
O grupo também seria responsável pela execução da mãe e da esposa do atirador, identificadas, respectivamente, como Maria José Pereira da Silva e Maria Nathália Campelo do Nascimento, que foram encontradas mortas num canavial em Paudalho, na Zona da Mata de Pernambuco.

Segundo o Ministério Público, no texto da denúncia, os promotores que acompanham o caso registraram que os acusados mataram as vítimas a tiros, “por motivo torpe de vingança, em uma emboscada, o que não deu a elas chance de defesa”. “Diversos policiais se deslocaram até Tabatinga, sob o comando, instrução e monitoramento de oficiais da Polícia Militar, onde iniciaram uma caçada a Alex e a parentes deste, com claro intuito homicida, em vingança pela morte dos colegas”, informa o texto do MPPE.

G1 Pernambuco

Quatro homens são mortos com tiros na cabeça em chacina em Bom Jardim

Quatro homens com idades entre 24 e 35 anos foram assassinados a tiros no município de Bom Jardim, no Agreste de Pernambuco. De acordo com a Polícia Civil, testemunhas relataram que as vítimas estavam numa via pública quando criminosos armados se aproximaram, dispararam vários tiros e fugiram. Imagens feitas no local mostram que elas foram atingidas na cabeça.

O caso ocorreu na sexta-feira (29), numa praça às margens da PE-89, no distrito de Bizarra. Segundo a polícia, as vítimas tinham 24, 25, 28 e 35 anos. Um vídeo enviado ao WhatsApp da TV Globo, que não será divulgado por conter imagens fortes, mostra a movimentação de moradores no local depois do crime.Nessas imagens, é possível ver, ao menos, três das quatro vítimas juntas com garrafas de bebida alcóolica no chão, ao lado de um banco.

A Polícia Militar informou que foi acionada e isolou a área até a chegada da Polícia Civil, que abriu um inquérito para investigar o crime.

G1 Pernambuco

Chacina da Candelária: vítimas são lembradas após 30 anos do crime

O vermelho intenso da tinta que retocou a pintura na calçada em frente a Igreja da Candelária, no centro do Rio de Janeiro, chama a atenção de quem passa. A representação dos oito meninos e adolescentes mortos a tiros na madrugada do dia 23 de julho de 1993, no entorno da igreja, divide espaço com uma cruz de madeira e placas com os nomes deles. Tudo foi restaurado para lembrar o crime, que ficou conhecido internacionalmente como Chacina da Candelária, e que completa 30 anos neste domingo (23).

Movimentos sociais programaram atividades em memória das vítimas, que tinham entre 11 e 19 anos e viviam em situação de rua. Na sexta-feira (21) houve vigília, que reuniu mães e familiares, e neste domingo (23), ativistas voltam à Candelária para um ato. Na segunda-feira (24), haverá lavagem das escadarias da igreja, missa e caminhada. À noite, a estátua do Cristo Redentor será iluminada de verde esperança.

Nesses 30 anos do crime, outras chacinas ocorreram no estado, e em vários desses casos, os acusados foram agentes, que, legalmente, deveriam proteger vidas. Um estudo publicado em abril deste ano, pelo Geni, o Grupo de Estudos de Novas Ilegalidades, da Universidade Federal Fluminense, mostrou que, apenas de 2007 a 2022, foram registradas 629 chacinas decorrentes de ações de policiais no estado. Ou seja, ocorrências que deixaram três ou mais mortos, segundo a metodologia da pesquisa. Nada menos que 2.500 pessoas perderam a vida nesses episódios.

Para o sociólogo e coordenador do Geni, Daniel Hirata, as chacinas são consequência de uma convivência bastante íntima das instituições formalmente democráticas e de certos setores estatais, particularmente os que são ligados ao uso da força. ” Com o passar das décadas as chacinas foram se tornando predominantes em operações policiais em ações avalizadas pelos poderes políticos e policiais”, explicou.

Márcia Gatto, representante do Movimento Candelária Nunca Mais e membro do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, disse que o Rio tem uma política de segurança muito “agressiva e violenta”, que ocasiona não apenas as chacinas, mas também as mortes de crianças e jovens, de forma isolada.

“É uma política mesmo homicida e tem um segmento que são negros e pobres. Não assegura direitos e sim, está sempre violando direitos que é o direito a vida dessas pessoas”, observou.

A educadora Yvonne Bezerra de Mello trabalhava com crianças e adolescentes em situação de rua na região da Candelária quando houve a chacina, em 1993. O projeto de educação mantido por ela naquela época evoluiu e se transformou na Organização Não Governamental Uerê, voltada para aqueles que possuem bloqueios cognitivos e emocionais, devido à exposição constante a traumas e violência.

” A chacina da Candelária não serviu para nada, a violência é constante, aqui se mata mais que a maioria dos países do mundo”, explicou a educadora.

Dois policiais militares e um ex-policial foram condenados pelo massacre, todos com penas que superam os 200 anos de prisão. Segundo o Tribunal de Justiça do Rio, o PM Nelson Oliveira dos Santos cumpriu pena até sua extinção, em 2008. Já o PM Marco Aurélio Dias de Alcântara e o ex-PM Marcus Vinícius Emmanuel Borges cumpriram suas penas até receberem indultos em 2011 e 2012, respectivamente.

O crime teria acontecido porque, no dia anterior, os meninos jogaram pedras em um carro da Polícia Militar.

Um sobrevivente da chacina, Wagner dos Santos, alvo de quatro tiros, acabou tornando-se peça-chave na elucidação do crime.

Por meio de nota, a Polícia Militar informou que suas ações têm “como preocupação central a preservação de vidas e o cumprimento irrestrito da legislação em vigor”.

A Secretaria Municipal de Assistência Social da cidade do Rio, também por meio de nota, explicou que existe um serviço de acolhimento institucional temporário para garantir direitos de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social que precisaram ser afastados de suas famílias ou casas.

Procurada, a Polícia Civil não se manifestou.

Agência Brasil