A brincadeira de soltar pipa, comum em várias regiões do Brasil, é uma ameaça à vida, inclusive dos animais silvestres. O cerol (mistura de cola com vidro) e a linha chilena (mistura de óxido de alumínio e outros materiais abrasivos), que são usados na linha da pipa causam muitos acidentes e até mortes, não só de pessoas, mas também de aves silvestres.
O Centro de Animais Silvestres de Pernambuco (Cetas Tangara), unidade da Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH), recebe cerca de 40 aves vitimadas pela “linha da morte”, no período de agosto a outubro de cada ano, quando os ventos são mais intensos e pipas são vistas cortando os ares.
“Este carcará foi atingido por uma linha de pipa com cerol e foi levado ao Cetas, bastante machucado, com lesões em ambas as asas. Teve a sorte de ser socorrido e de o tratamento estar dando certo. Mas, nem todo episódio envolvendo as linhas cortantes terminam com um final feliz”, comentou a veterinária do Cetas Tangara, Luana Raposo.
Embora uma boa parte dos animais vitimados se recupere, muitos deles ficam mutilados e outros morrem.
Mesmo nos meses menos favoráveis à brincadeira, quando os ventos são menos intensos, o Cetas recebe animais atingidos pelas linhas cortantes: “A linha cai ou fica pendurada em algum lugar e não é recolhida, sendo as aves as principais vítimas, que quando sofrem lesões cortantes e não são resgatadas, acabam morrendo devido à gravidade dos ferimentos”.
O lado bom da história é saber que duas propostas de lei para eliminar a prática do uso de cerol e de outras linhas cortantes nas pipas estão em tramitação na Câmara dos Deputados: o Projeto de Lei 3228/20, que proíbe o uso de pipa com cerol e similares em todo território nacional, e o Projeto de Lei 3358/20, que tipifica o uso, a venda e o porte de cerol ou linha chilena como crime de perigo para a vida ou saúde de outros, com pena de três meses a um ano de detenção.