Uma apuração interna da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) concluiu que houve “delitos e graves desvios de conduta“ durante a gestão do general Mauro Lourena Cid — pai do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro — no escritório de representação em Miami (EUA).
Entre as condutas erradas, está a identificação do médico Ricardo Camarinha como funcionário fantasma do escritório americano. Camarinha cuidava da saúde do ex-presidente Jair Bolsonaro.
“As apurações da Comissão confirmaram notícias publicadas na mídia sobre a contratação, pelo EA (escritório) Miami, do médico de Jair Bolsonaro, que segundo relatos colhidos, foi imposto à equipe, contratado pela sede em Brasília e expatriado por meio de instrumentos de excepcionalidade (memorando, portaria e carta oferta) em abril de 2022. O médico não desenvolvia qualquer atividade profissional que mantivesse ligação com o cargo de assessor, e nem frequentava as dependências do escritório. O fato configura uma contratação fraudulenta”, afirma o texto.
Procurado, o médico não respondeu os questionamentos, e o espaço segue aberto. Em nota, a Apex informou nesta sexta-feira que enviou o caso à Justiça. A apuração tem relação com negociações de joias e presentes de Estado nos EUA, inquérito no qual Bolsonaro e ex-assessores, incluindo Lourena, são investigados. Segundo a Apex, o pai de Mauro Cid usou da estrutura do escritório de Miami indevidamente.
O documento cita “afastamento das funções” e “defesa de pautas golpistas” por parte de Lourena à frente do escritório. Ele foi gerente geral entre 2019 a 2022. A Apex cita que, mesmo demitido, ainda nas dependências da empresa, Lourena usou o celular funcional para compartilhar fotos das joias e objetos de arte do acervo atribuído a Bolsonaro.
Segundo depoimentos, nesse momento, Lourena se encontrava no gabinete que ocupara como gerente geral. As fotos, amplamente conhecidas, foram produzidas também pelo mesmo celular corporativo. A apuração diz ainda que ficou demonstrada, com base nos mesmos relatos, a resistência do general em devolver à Apex o celular.
Médico de Bolsonaro
Ricardo Camarinha era o cardiologista quem acompanhava Bolsonaro em viagens nacionais e internacionais, e estava no serviço público desde 1983. Além de Bolsonaro, ele atendeu também a FHC.
Segundo o colunista Lauro Jardim, em 31 de março de 2022, Bolsonaro exonerou o cardiologista da função de médico da Presidência da República e o enviou, na sequência, para uma vaga de segundo oficial no escritório da Apex Brasil em Miami. Na véspera da posse do novo presidente da Apex, Jorge Vianna, em maio de 2023, Camarinha foi desligado da agência.
No período em que o ex-presidente permaneceu fora do país, após perder a eleição, Camarinha estava nos EUA. Em janeiro, o cardiologista fez uma visita ao condomínio em que Bolsonaro estava hospedado, após o ex-chefe do Executivo ser internado com fortes dores abdominais.
Perguntado pela Revista Época em 2020 sobre o que é preciso para ocupar o cargo, respondeu que não existe característica específica: ” Falo por mim, que estou atento 24 horas por dia, com discrição e confiança profissional” resumiu.
Agência O Globo