A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) apresentou ao mercado uma nova variedade de cultivo de uva de mesa que promete transformar o cenário da viticultura no Semiárido brasileiro.
Batizada de BRS 54 Lumiar, a nova variedade branca sem sementes reduz em até 50% os custos com mão de obra no manejo dos cachos — uma etapa que representa cerca de 40% do custo total com mão de obra na produção da fruta na região.
A cultivar surge como solução para dois grandes desafios enfrentados pelos produtores: a alta demanda de mão de obra para o raleio dos cachos (prática de descompactação para melhorar o aspecto e a qualidade da uva) e a escassez de variedades brancas sem sementes adaptadas às condições do Semiárido.
Além de contribuir com a economia no campo, a BRS 54 Lumiar se destaca pelas qualidades sensoriais: bagas grandes, elípticas, de textura crocante e macia, com alto teor de açúcares, acidez equilibrada e ausência de adstringência na película. Essas características reforçam o potencial da cultivar tanto para o mercado interno quanto para exportação.
Resultado do programa de melhoramento genético “Uvas do Brasil”, coordenado pela Embrapa, a nova cultivar foi desenvolvida especificamente para as condições do Vale do Submédio São Francisco. Segundo o pesquisador João Dimas Garcia Maia, um dos responsáveis pelo projeto, a Lumiar responde a uma antiga demanda dos produtores da região por uma uva branca sem sementes adaptada ao clima local.
Dimas explica que, diferentemente das cultivares estrangeiras — que exigem cerca de 50% mais mão de obra para o raleio —, a Lumiar foi desenvolvida para simplificar esse processo, reduzindo custos e melhorando a eficiência. Outro diferencial importante é que as cultivares da Embrapa não exigem o pagamento de royalties por quilo vendido, apenas o valor das mudas, ao contrário das variedades importadas.
Além de atender ao paladar dos consumidores, a nova uva foi pensada para garantir produtividade, resistência a doenças e menor dependência de insumos e mão de obra, como ressaltam os pesquisadores José Fernando Protas e Joelsio Lazzarotto, da área de socioeconomia da Embrapa. Esses fatores são fundamentais, considerando que, em cultivares tradicionais, os custos com mão de obra representam até 35% do total de produção, sem contar a pós-colheita.
Para Newton Matsumoto, produtor e consultor em viticultura no Vale do São Francisco, que participou da validação da Lumiar no campo, a nova cultivar traz um pacote completo de vantagens.
Embora também tenha sido testada em outras regiões, como a Serra Gaúcha, a recomendação atual de cultivo da BRS 54 Lumiar é voltada especificamente para o Vale do Submédio São Francisco, onde já demonstra excelentes resultados.