O Atlas da Violência, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, trouxe um dado que merece atenção: o Brasil registrou, em 2023, o menor número de homicídios dos últimos 11 anos. Foram 45.747 assassinatos, com uma média de 21,2 mortes por 100 mil habitantes uma queda de 1,4% em comparação com 2022.
Aparentemente, é um dado positivo. Mas quando analisamos os detalhes, surgem alertas importantes. A redução nacional foi puxada por alguns estados que investiram em políticas de segurança baseadas em dados, com foco em inteligência, prevenção e presença efetiva do Estado. Porém, em nove estados brasileiros a taxa de homicídios aumentou, mostrando que a violência não recuou de forma uniforme.
E é aqui que o caso de Pernambuco merece destaque infelizmente, de forma negativa. O estado foi na contramão da tendência nacional, com alta de 8% nos homicídios em 2023. A situação é ainda mais preocupante quando se considera que Pernambuco já vinha enfrentando dificuldades no enfrentamento da criminalidade urbana e rural. A atual gestão estadual demonstra, mais uma vez, fragilidade em combater de forma eficiente a violência que atinge sobretudo as periferias, os jovens e as mulheres.
Outros estados com aumento expressivo foram o Amapá, com alta alarmante de 41,7%, e o Rio de Janeiro, com 13,6%. Também registraram crescimento: Alagoas, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
O estudo aponta que a redução nacional pode estar relacionada a fatores como o envelhecimento da população, acordos de não-agressão entre facções criminosas em algumas regiões e políticas locais mais eficazes. Mas isso não garante que o país esteja mais seguro no longo prazo. Sem políticas estruturais e de combate às causas profundas da violência como desigualdade, exclusão social, falta de acesso à educação e cultura , a queda pode ser apenas temporária.
Outro dado que precisa ser encarado com seriedade: a violência contra mulheres aumentou. Em pleno século XXI, o número de mulheres assassinadas subiu, em desacordo com o restante do país. O feminicídio segue como uma ferida aberta, que exige resposta imediata do poder público.
Pernambuco precisa de uma reorientação firme na política de segurança. A população quer mais do que estatísticas: quer viver sem medo. Que os números do Atlas sirvam de alerta e não de consolo.
Waldiney Passos