O Talibã voltou a ganhar força no Afeganistão. Em rápidas investidas nas últimas semanas, o grupo extremista tomou o controle das maiores cidades afegãs, incluindo a capital, Cabul.
Em menos de quatro meses, os insurgentes tomaram o controle de quase todo o país e voltaram à capital, Cabul, 20 anos após serem expulsos pelas forças ocidentais lideradas pelos Estados Unidos.
1. O que é o Talibã?
O Talibã, que significa “estudantes” na língua pashto, emergiu em 1994 nos arredores de Kandahar. O grupo atraiu membros dos chamados combatentes mujahidin, que, com o apoio dos Estados Unidos, repeliram as forças soviéticas na década de 1980.
Cansada dos excessos dos mujahidin e das lutas internas após a expulsão dos soviéticos, a população afegã em geral deu as boas-vindas ao Talibã quando eles apareceram pela primeira vez.
Sua popularidade inicial se deveu em grande parte ao sucesso em reduzir a corrupção, coibir a criminalidade e trabalhar para tornar seguras as estradas e áreas sob seu controle, estimulando assim o comércio.
De 1994 a 1996, o Talibã ganhou controle exclusivo sobre a maior parte do país, o proclamando um emirado islâmico.
Nos cinco anos seguintes, o grupo controlou o Afeganistão com uma interpretação dura da sharia, a lei islâmica.
2. O que eles defendem?
Quando os talibãs tomaram o Afeganistão nos anos 1990, as mulheres não podiam trabalhar nem estudar e tinham que ficar confinadas em casa. Era obrigatório, ainda, que vestissem apenas a burca — uma mortalha que só deixa os olhos à mostra.
Além disso, os homens tiveram que deixar a barba crescer.
3. O Talibã não tinha sido derrotado?
Antes do 11 de setembro de 2001 e diante dos primeiros atentados reivindicados pela Al-Qaeda, os Estados Unidos acreditavam que Osama bin Laden estava refugiado no Afeganistão, sob a guarda talibã.
Com os múltiplos atentados em solo americano no 11 de setembro, que mataram milhares, as forças apoiadas pelos EUA invadiram Cabul em novembro de 2001, com pesados ataques aéreos.
A coalizão apeou o Talibã do poder e abriu caminho para eleições livres. Ainda em 2001 Hamid Karzai foi escolhido líder interino. Três anos depois ele era eleito presidente.
As tropas talibãs, no entanto, jamais deram trégua, apesar de enfraquecidas. Homens-bomba fizeram vítimas ao longo dos anos, e missões pontuais das forças ocidentais tentaram combater os resistentes.
O fundador e líder original do Talibã foi o mulá Mohammad Omar, que se escondeu depois que o Talibã foi derrubado. Tão secreto foi seu paradeiro que sua morte, em 2013, só foi confirmada dois anos depois por seu filho.
4. Como eles voltaram a tomar o controle?
Com o aparente enfraquecimento dos talibãs, os EUA começaram a programar a retirada das tropas, entre idas e vindas.
Em abril, o presidente norte-americano, Joe Biden, anunciou a retirada total de seus soldados, começando em maio e terminando em setembro.
Já em maio começaram as manobras dos talibãs, que sem alarde arregimentaram 85 mil combatentes, de acordo com estimativas recentes da Otan — mais do que tinham 20 anos atrás.
Em julho, os insurgentes já tinham tomado metade do território afegão. No início de agosto, praticamente todas as grandes cidades caíram para os terroristas.
O Talibã disse no início deste ano que queria um “sistema islâmico genuíno” para o Afeganistão que fornecesse disposições para os direitos das mulheres e das minorias, em consonância com tradições culturais e regras religiosas.
5. Quem lidera o grupo?
Mawlawi Hibatullah Akhundzada foi nomeado comandante supremo do Talibã em maio de 2016, depois que o mulá Akhtar Mansour foi morto em um ataque de drones nos Estados Unidos.
Akhundzada trabalhou como chefe dos tribunais da sharia na década de 1990. Como comandante supremo do grupo, Akhundzada é responsável pelos assuntos políticos, militares e religiosos.
6. Como fica o Afeganistão agora?
Os Estados Unidos e as Nações Unidas já impuseram sanções ao Talibã, e a maioria dos países mostra poucos sinais de que reconhecerá o grupo diplomaticamente.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse no início do mês que o Afeganistão corria o risco de se tornar um estado pária se o Talibã tomasse o poder.
Outros países, como a China, começaram a sinalizar cautelosamente que podem reconhecer o Talibã como um regime legítimo.