Ex-diretor da PRF afirma que recebeu ordens para operação com foco em ônibus que iam ao Nordeste antes do 2º turno de 2022

O ex-diretor de Operações da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Djairlon Henrique Moura, declarou nesta terça-feira (27), em audiência no Supremo Tribunal Federal (STF), que recebeu ordens para realizar uma operação de fiscalização voltada a ônibus com eleitores que se deslocavam do Centro-Oeste e Sudeste em direção ao Nordeste, dias antes do segundo turno das eleições presidenciais de 2022.

Segundo Moura, a orientação partiu do então diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques, e do então diretor de Operações, Fernando de Souza Oliveira. Ele ressaltou, no entanto, que a ação ocorreu entre os dias 21 e 27 de outubro, portanto antes do segundo turno, e negou que houvesse motivação política.

— O DPF Fernando, à época diretor de operações, teria nos solicitado a realização de uma operação antes da eleição, dos ônibus que estariam saindo de São Paulo e da região Centro-Oeste em direção ao Nordeste do Brasil, com possíveis votantes e recursos financeiros — afirmou Moura.

Batizada de “Transporte Seguro”, a operação não teria identificado transporte irregular de eleitores durante o período em que foi realizada. Moura destacou que a ação foi concluída antes do dia do segundo turno.

A declaração foi prestada durante o depoimento de Moura como testemunha de defesa do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, em ação penal que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado. Moura foi indiciado pela Polícia Federal (PF) no ano passado por suposta atuação para dificultar o deslocamento de eleitores no Nordeste. Por ser investigado, não prestou compromisso de dizer a verdade durante a audiência.

As investigações tiveram início após reportagens e denúncias apontarem que, no dia 30 de outubro de 2022, data do segundo turno, a PRF fiscalizou cerca de 2 mil ônibus no Nordeste, contra 571 no Sudeste, o que gerou suspeitas de que as blitzes teriam o objetivo de dificultar o acesso de eleitores do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva às urnas. A Procuradoria-Geral da República (PGR) afirma que Silvinei Vasques e Anderson Torres se articularam para limitar o deslocamento de eleitores do Nordeste, onde Lula teve forte desempenho eleitoral.

Na semana anterior, Adiel Pereira Alcântara, ex-coordenador de inteligência da PRF, também prestou depoimento no mesmo processo e afirmou que Moura teria repassado ordem de fiscalização voltada a veículos com destino ao Nordeste.

Moura confirmou a existência da orientação, mas reforçou que se tratou de uma ação anterior ao segundo turno e que, em sua visão, a medida era comum em períodos eleitorais.

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