A Operação Turbulência avançou mais uma etapa nesta quarta-feira (3), após a Procuradoria da República em Pernambuco encaminhar à Justiça Federal denúncia contra 18 envolvidos na suposta organização criminosa. No documento de 46 páginas, apresentado pelo procurador Cláudio Henrique Cavalcanti Dias, há menções explícitas ao exgovernador Eduardo Campos (PSB) e ao senador Fernando Bezerra Coelho (PSB), pai do ministro de Minas e Energia, Fernando Filho (PSB), com indícios de que eles seriam beneficiários do esquema de propina.
Eles são classificados como “clientes” do processo de lavagem de dinheiro e branqueamento de recursos feito por João Carlos Lyra, que está preso no Cotel desde junho. A nomeclatura diz respeito a pessoas que procuravam à organização para lavar dinheiro.
O caso chegou à Justiça Federal anteontem e agora caberá à juíza federal Amanda Torres de Lucena Diniz Araújo, da 4ª Vara, decidir sobre a abertura de ação penal. Semana passada, a Polícia Federal indiciou 20 pessoas investigadas pela Operação Turbulência, pelos crimes de lavagem de dinheiro, organização criminosa e falsidade ideológica.
Segundo a Procuradoria, Lyra seria o líder de suposto grupo criminoso encarregado de entregar propina da empreiteira Camargo Corrêa ao ex-governador Eduardo Campos e Bezerra Coelho. A suspeita é que o dinheiro seja proveniente das obras da Refinaria Abreu e Lima, também investigada na Operação Lava Jato.
A denúncia aponta que Lyra atuava por conta própria nas práticas de lavagem de dinheiro e agiotagem no desvio dos
cofres públicos. “Ele foi reconhecido pelos ex-empregados da Camargo Correia como sendo a pessoa encarregada de entregar a propina devida por aquela empreiteira ao ex-governador Eduardo Campos e ao senador Fernando Bezerra Coelho em virtude das obras na Refinaria Abreu e Lima”, diz o texto.
A investigação apontou que a rede de laranjas negociava entre si. “Clientes” de Lyra emprestavam montantes de dinheiro com juros de 2% em curto espaço de tempo. Entre os membros dessa transação estava Paulo César Morato, encontrado morto em um motel no dia 22 de junho após ingerir chumbinho. Até hoje, o crime ainda é marcado por dúvidas e a Secretaria de Defesa Social (SDS) não esclareceu se o caso foi suicídio ou homicídio.
“Ele fazia circular os capitais que movimentava em razão do segundo crime, de branqueamento de capitais, mediante a ‘venda’ de dinheiro em espécie, também mediante a cobrança de juros de 2%, esquema do qual eram seus ‘clientes’, a Construtora OAS, o deputado federal Arthur Lira, o senador Benedito de Lira, o falecido ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos e o atual ministro de Estado Fernando Bezerra Coelho, conforme detalhado no bojo dos Inquéritos Policiais n.o 3994/2015 e 4005/2015 (da Operação Lava Jato), cujas provas foram compartilhadas nos autos do inquérito que lastreia a presente denúncia”.
Os políticos não são denunciados pela Turbulência. Como detentor de foro privilegiado, Bezerra Coelho é investigado no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF) na Operação Lava Jato. A denúncia de branqueamento de capitais será analisada na esfera federal.
RESPOSTAS
Por meio de nota, o advogado André Callegari, que representa Fernando Bezerra Coelho, disse que as afirmações da denúncia são “absolutamente imprecisas” e “vão de frontal encontro” ao Inquérito 4005, da Lava Jato. Segundo a defesa, diferente do que foi descrito pelo MPF, o senador do PSB não foi citado por qualquer pessoa ligada à Camargo Correa, muito menos como receptor de recursos da empresa; e que não há provas de participação dele em nenhuma atividade ilícita. Também reiterou que ele não participou das coordenações das campanhas de Eduardo Campos em 2010 e 2014.
A família Campos foi procurada por meio do advogado José Henrique Wanderley, mas não se pronunciou até o fechamento da reportagem. Em nota, o PSB afirmou manifestar absoluta confiança de que a apuração dos fatos e o julgamento isento e desapaixonado comprovará a falta de base das acusações feitas ao ex-presidente do partido. Segundo o partido, Eduardo sempre zelou pela estrita observação da norma legal no curso das campanhas que disputou.
A Construtora OAS afirmou que não iria se manifestar. A assessoria do senador Benedito de Lira (PP-AL) disse que ele reitera o que já havia dito antes: que não conhece as pessoas citadas na Operação Turbulência e nunca teve contato com elas. Já a assessoria do deputado federal Arthur Lira (PP-AL) não atendeu os telefonemas do JC.
Com informações do NE10