Mais uma vez, o Banco Central decidiu aumentar os juros no Brasil. A taxa Selic, que serve como referência para todas as demais taxas de crédito no país, subiu de 14,25% para 14,75% ao ano, atingindo o maior patamar desde julho de 2006, ainda no primeiro governo do presidente Lula. A decisão unânime do Comitê de Política Monetária (Copom) joga mais luz sobre uma realidade dura e recorrente: o custo de vida para os brasileiros continua a subir, enquanto o acesso ao crédito e ao consumo se estreita.
O argumento técnico do Copom é que a inflação segue pressionada por fatores externos, como a instabilidade econômica dos Estados Unidos e os desdobramentos da guerra comercial, além de um cenário fiscal interno ainda desajustado. Tudo isso é verdade. Mas a decisão, embora justificada do ponto de vista técnico, tem implicações diretas e profundas na vida real de quem trabalha, empreende e tenta manter as contas em dia.
Quando a taxa Selic sobe, o crédito encarece imediatamente. Juros de cartão de crédito, cheque especial, empréstimos pessoais e financiamentos de empresas ficam ainda mais altos. Isso freia o consumo, trava investimentos e afeta duramente o pequeno empreendedor, que depende de capital de giro para manter seu negócio funcionando. Para quem sonha com a casa própria ou precisa renegociar dívidas, o cenário é ainda mais desanimador.
Além disso, essa política de juros altos como forma de combater a inflação é, em muitos aspectos, uma solução preguiçosa, que penaliza a base da pirâmide social. Pouco se discute o impacto real das despesas públicas mal administradas, da corrupção que drena bilhões da educação, saúde e infraestrutura, ou da necessidade urgente de reformas estruturantes que tragam previsibilidade e eficiência à economia brasileira.
Enquanto isso, milhões de brasileiros seguem lutando para pagar contas básicas, comprar comida e garantir dignidade com salários que não acompanham a inflação real dos supermercados. A elevação da Selic, se por um lado ajuda a conter o avanço dos preços, por outro representa um freio no crescimento e no bem-estar da população mais pobre.
É preciso coragem política e visão de longo prazo para sair desse ciclo. O Brasil não pode continuar prisioneiro da lógica dos juros altos como única resposta à inflação. É hora de buscar soluções integradas, que envolvam responsabilidade fiscal, investimento em produtividade, fortalecimento da indústria nacional e educação financeira para a população.
Enquanto isso não acontece, quem paga a conta — como sempre — é o povo.
Waldiney Passos