Na última quinta-feira (26), o Brasil e o mundo assistiram estarrecidos a notícia de uma adolescente que foi vítima de estupro praticado por 33 homens, segundo relatos da própria garota , ela teria ido a casa do namorado na sexta e só acordou no domingo, sem o celular por isso teria voltado para buscá-lo, ocasião que o crime ocorreu.O estupro, se deu na comunidade de Morro São João, Jacarepaguá, (RJ),foi filmado e divulgado no perfil do Twitter de um dos autores do crime.
Em entrevista a adolescente aos prantos afirmou que ” não dói o útero, dói a alma”.
O estupro é um dos crimes violentos que mais cresce em incidência. Apenas aproximadamente 50% dos estupros são notificados, pois a maioria das mulheres se sente envergonhadas em ir a uma delegacia fazer corpo de delito. Mais do que um ato sexual, o estupro é um ataque agressivo, com expressão sexual. Desencadeia reações emocionais complexas por parte da vítima, frequentemente mais significativas do que o dano físico.
Durante a última década, as perspectivas sociais e psicológicas do estupro evoluíram significativamente. O estupro passou a ser encarado como crime de violência que pode ou não incluir excitação sexual por parte do agressor. Na maioria dos casos a motivação do estuprador parece ser a degradação e a dominação da vítima, em vez da obtenção de relações sexuais não acessíveis de outra forma. Esses achados ajudam a explicar os sentimentos da vítima e as sequelas psicológicas que podem ocorrer.
A maioria das vítimas de estupro sofre de uma série de sintomas. Existem efeitos psicológicos e físicos decorrentes de um estupro ou de uma agressão sexual. Durante o período posterior à agressão, as pacientes podem relatar diversos sintomas, como fadiga e cefaleias, pode haver também dor devida a traumatismo físico durante a agressão. Distúrbios do sono são comuns, incluindo acordar no horário que o estupro ocorreu, Auto-acusações, Medo de ser assassinada, Sentimentos de degradação e perda da auto-estima, Sentimentos de despersonalização ou desrealização, culpa,Ansiedade, Depressão,Temor de andar ou ficar só, Medo das pessoas atrás delas e de multidões, Medo de ficar dentro de casa ou fora dela (dependendo de onde ocorreu o estupro),Temores sexuais, Pesadelos repetidos recapitulando o estupro, síndrome do pânico, Tendências suicidas, problemas com relacionamentos íntimos. Muita das vezes a vítima se torna estigmatizada, ela se considera “impura” ou “indigna” por pensar que de algum jeito ela colaborou com o ocorrido.
A mulher tende a imaginar que ninguém vai aceitar o que aconteceu e que o parceiro pode rejeitá-la por ter sido estuprada. O apoio e compreensão dos familiares ou pessoas próximas são bastante importantes, e para que isso ocorra de maneira adequada, faz-se necessária à avaliação e orientação psicológica destes.
Cada pessoa absorve o trauma de uma forma diferente, de acordo com a experiência de vida, valores e crenças. O primeiro passo do tratamento terapêutico e conscientiza o paciente de que ele não tem culpa do ocorrido, utilizando técnicas para aumentar a sua auto-estima. Em alguns casos, dependendo da gravidade do trauma, e preciso que um médico receite medicamentos que variam de pessoa para pessoa.
Existem três momentos em que são diretrizes das principais demandas no atendimento do psicólogo com a vítima do estupro:
Primeiro Momento.
- Avaliação dos sentimentos predominantes (medo, revolta, raiva, culpa, ansiedade, angústia, calma).
· Avaliação do grau de desorganização da vida pessoal.
· Avaliação da organização psíquica e mecanismos.
· Reações psicossomáticas.
· Reações do grupo social em que está inserida (acolhimento e apoio, críticas, discriminação, revolta, expulsão).
· Aconselhamento sobre DST/HIV/AIDS.
· Importância de a paciente respeitar o estado emocional em que se encontra e suas limitações.
· Apoio emocional.
· Entrevista psicológica com acompanhante ou familiar.
Segundo Momento.
- Reorganização da vida após a violência sofrida (retorno ao trabalho, à escola, as atividades desenvolvidas).
· Prevenção de futuras conseqüências na vida pessoal (estado depressivo, escolhas de relacionamentos, perpetuação da violência).
· Recuperação da auto-estima.
· Encaminhamento para avaliação psiquiátrica, caso seja necessário.
· Repercussões no sentimento frente à figura masculina.
· Apoio emocional.
· Sentimentos persecutórios provenientes da violência sofrida.
Terceiro Momento.
Casos em que ocorre gravidez:
- Sentimentos relacionados à constatação da gravidez fruto da violência sexual (ambivalência, culpa, rejeição, aprovação).
· Levantamento dos princípios morais e religiosos que podem interferir na decisão ou não pelo abortamento legal.
· Fantasias relacionadas à gravidez e ao abortamento.
· Acompanhamento psicológico no decorrer da internação para interrupção legal da gestação, havendo a possibilidade de dar continuidade a este no ambulatório.
· Apoio psicológico frente às opções outras que não o abortamento legal.
É fundamental que a mulher que vivencia esta situação possa se sentir livre, sem preconceitos e julgamentos para fazer sua opção e sinta-se acolhida dentro do seu convívio familiar e da sociedade, qualquer que seja a sua escolha.
Cabe ressaltar a importância do atendimento multidisciplinar a mulheres vítimas de violência sexual e a necessidade de que um número maior de instituições se estruture para facilitar o atendimento a esta população, que poderá ser poupada de um desgaste e exposição maior, caso receba o atendimento adequado próximo a sua moradia ou local em que foi violentada.
Por Elizângel Mesquita Psicóloga
Locais para denúncia de estupro e abusos na internet:
– denuncia.pf.gov.br/
– www.safernet.org.br/site/
– www.humanizaredes.gov.br/disque100/