O ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, afirmou ter se limitado às suas funções institucionais ao participar de reuniões no Palácio do Planalto em dezembro de 2022, nas quais o então presidente Jair Bolsonaro teria discutido o resultado das eleições e possíveis medidas diante da insatisfação popular.
Garnier é um dos réus do chamado Núcleo 1 da suposta tentativa de golpe de Estado e foi interrogado nesta terça-feira (10) pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF).
Na audiência, o almirante negou qualquer intenção de apoiar medidas para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ele, não houve deliberações sobre ruptura institucional, nem apresentação de minutas ou documentos legais que sugerissem uma ação nesse sentido.
Garnier declarou que viu apenas uma apresentação em um computador, com tópicos sobre segurança pública e o clima de instabilidade causado por protestos em frente a quartéis.
De acordo com o ex-comandante, além de Bolsonaro, participaram da reunião de 7 de dezembro de 2022 o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio, o comandante do Exército, general Freire Gomes, e outros assessores, como o tenente-coronel Mauro Cid.
Garnier reforçou que o presidente não abriu espaço para deliberações e que o encontro foi marcado por preocupações com a ordem pública.
Ele também rejeitou a acusação de ter colocado as tropas da Marinha à disposição do ex-presidente, como apontado em depoimento anterior do ex-comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos Baptista Júnior. Disse ainda não ter recebido nenhuma informação que indicasse fraudes nas eleições de 2022, embora tenha defendido maior transparência no processo eleitoral como forma de evitar tensões sociais.
O depoimento de Garnier integra a fase final da ação penal que apura a tentativa de impedir a posse de Lula. Estão previstos até sexta-feira (13) os interrogatórios de outros réus, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro e o general Braga Netto.
O julgamento deve ocorrer no segundo semestre deste ano, e, em caso de condenação, as penas podem ultrapassar 30 anos de prisão.