Empresário João Carlos Paes Mendonça critica soluções superficiais de combate à inflação e defende corte nos gastos públicos

Ex-integrante do Conselho Monetário Nacional e ex-presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), o empresário João Carlos Paes Mendonça, presidente do Grupo JCPM e do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (SJCC), sabe que combater a inflação não é uma tarefa fácil e nem de curto prazo.

“É um plano longo, começando a cortar os custos. Esse governo não pode ser dito governo tributarista, ele tem que ser um governo progressista, que venha a desenvolver um país através de suas infraestruturas. O papel do governo é ajudar no desenvolvimento do país, criar infraestrutura e deixar que as empresas privadas administrem os seus negócios”, disse, durante entrevista ao Programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal.

Defendendo o corte nos gastos públicos, João Carlos acredita, ainda, que tabelar preços pode prejudicar todo o país e que tentar controlar os preços rapidamente pode levar ao fracasso. Ele acrescentou, ainda, que deve-se buscar controlar os gastos desnecessários para que não se tenha a “ansiedade de buscar dinheiro de qualquer jeito, da área tributária ou de dividendos”.

“Não se tem austeridade nos custos, as despesas são desesperadoras e os gastos, exagerados. Não tem economia que aguente”, alertou.

Com a subida dos preços, o tema de um possível controle nos preços dos alimentos entrou na agenda do governo na semana passada, após uma declaração do ministro da Casa Civil, Rui Costa, logo depois revista. O tema causou inquietação no País. Posteriormente, o chefe da Casa Civil declarou que não haverá congelamento de preços, tabelamento ou fiscalização pelo governo e que nenhuma medida como a criação de uma rede estatal de alimentos.

O empresário João Carlos Paes Mendonça, que presidiu a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS) de 1977 a 1987, período em que enfrentou congelamento de preços, fiscais do Sarney, entre outros efeitos dos planos, o problema atual não é a produção de alimentos, mas o controle fiscal. João Carlos afirmou que os preços altos no País são resultado de uma desorganização fiscal e pontuou: “Só tem uma solução: começar a reduzir o déficit”.

O empresário relatou momentos importantes vividos por ele naquele período. Falou das reuniões setoriais das quais participou e dos alertas que fez ao então ministro Dílson Funaro. Sem muito sucesso, o empresário conta que já alertava sobre o fracasso previsível do plano.

Já sobre o Plano Real, alguns anos depois, o empresário teve, desde o início, outra impressão. “O Plano Real inicialmente me surpreendeu. Eu fazia parte de um comitê no Ministério das Relações Exteriores para a implantação do Mercosul. Tinha equilíbrio das ações, pessoas competentes fazendo, havia credibilidade e nós conseguimos domar a hiperinflação”, disse João Carlos, lembrando a atuação do ministro Fernando Henrique Cardoso, logo após eleito presidente da República. “O presidente Lula recebeu as contas equilibradas”, acrescentou sobre o primeiro mandato do petista logo após FHC.

Ele acredita que a saída não será fácil, pois a exportação é uma opção mais rentável do que a venda no mercado interno. “Nós temos preços altos porque temos uma desorganização fiscal e, ao mesmo tempo, o dólar subiu e a exportação é muito mais vantajosa”, explicou.

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