Estamos com pressa. O tempo todo. Engolimos sem mastigar, vamos de carro pra academia porque é mais rápido, ouvimos música só dirigindo. O abraço nunca durou tão pouco – está mais para um cumprimento de amigos adolescentes que se jogam um no peito do outro e logo desgrudam. É difícil que as mãos inteiras e abertas consigam apoiar nas costas do outro e a melhor sensação do mundo, que é um abraço longo e apertado, se tornou um tesouro escondido em poucos braços e almas.
Mas por que corremos tanto? Por que a pressa, aquela que dizem que é a inimiga da perfeição, se tornou o melhor álibi para as nossas desculpas esfarrapadas?
Corremos porque não tiramos mais tempo para pensar no caminho. Como quando você precisa ir a quatro lugares e consegue passar duas vezes na frente do mesmo porque não planejou direito a rota. E aí você corre mais. O problema não é a falta do Waze ou do Google Mas a dificuldade em traçar um caminho que acompanhe as nossas necessidades e expectativas.
Também não sabemos bem qual caminho da vida tomar. E aí queremos ter três empregos, assumir cinco prazos e fazer cursos de gastronomia, ir a algumas palestras e provar todas as últimas cervejas da moda. E fazer tudo isso dá trabalho, aí corremos porque não tem jeito: uma hora vamos ter que dormir e até na hora de ir pra cama a gente corre querendo fechar o olho logo pra não perder tempo pensando demais.
Corremos porque temos medo de ficar pra trás num mundo que não entende que às vezes estagnar é ir pra frente. Corremos porque estamos sempre com a impressão de estarmos atrasados para um compromisso que, se pararmos bem para pensar, nem sequer existe. Porque o celular está sempre apitando porque alguém precisa de atenção, mas ele nunca diz “agora chega, fique com a sua própria solidão”.
Continuamos correndo porque a competitividade do mundo faz com que a gente tenha que se esforçar (e se apressar) cada vez mais para ser mais do que os outros. E fazemos tudo mais rápido para fazer mais mesmo desacreditando que seja possível dar o melhor em tudo o que fazemos. Tudo bem sermos superficiais se formos “produtivos”.
Corremos digitando e às vezes escrevemos errado, mas não importa porque quem está no outro lado vai entender. Revisar toma tempo. Queimamos a boca com o cappuccino quente porque esquecemos como é bom esperá-lo esfriar sentindo o cheiro de canela e ouvindo uma boa história.
Vivemos mais do que qualquer outra geração que veio antes de nós, e mesmo assim corremos mais. De tanto medo de não viver tudo o que há pra viver, acabamos vivendo menos.
De onde estamos a vida parece aquela cena da janela de um carro a cem por hora. O mar pode parecer infinito ou se confundir com o céu, uma flor pode ser a coisa mais linda do mundo ou só um borrão. Às vezes precisamos lembrar que quem decide e intensidade do acelerador somos nós. O mundo vai estar sempre lá, cheio de detalhes para quem quiser parar para ver.
Marina Meltz – blog EOH