O perigo silencioso que ameaça as salas de aula: uso de celulares compromete educação e saúde mental de jovens

O celular revolucionou a comunicação, o acesso à informação e a forma como nos conectamos com o mundo. No entanto, seu uso indiscriminado dentro das escolas está revelando um lado obscuro, silencioso e crescente: impactos profundos na qualidade do aprendizado, na convivência social e, principalmente, na saúde mental dos estudantes.

Uma recente pesquisa divulgada por veículos como a CNN Brasil mostrou que um em cada três alunos brasileiros não sabe que o uso de celulares é proibido em sala de aula. O dado, que por si só já levanta preocupação, revela um problema ainda maior: a ausência de políticas claras e comunicação efetiva entre escolas, pais e alunos sobre os limites do uso da tecnologia no ambiente educacional.

Segundo especialistas em neurociência e educação, o uso frequente do celular durante as aulas fragmenta a atenção dos estudantes, dificultando a retenção de conteúdos e o desenvolvimento de habilidades cognitivas fundamentais. “As notificações constantes mantêm o cérebro em estado de alerta, impedindo que o aluno entre em estados de concentração profunda”, afirma a psicóloga e educadora Marta Relvas, em entrevista ao portal GNTech Saúde.

A consequência direta disso é a queda no rendimento escolar, somada à superficialidade na aprendizagem. Tarefas como interpretar um texto, resolver problemas complexos ou mesmo manter o foco em atividades por mais de alguns minutos tornam-se cada vez mais desafiadoras.

O uso prolongado de smartphones também está ligado a um aumento de quadros de ansiedade, depressão e distúrbios do sono entre adolescentes, conforme apontado por estudos do Centro de Dependência Digital da Universidade de São Paulo (USP). Redes sociais, em especial, funcionam como gatilhos emocionais, promovendo comparações constantes, sensação de inadequação e sobrecarga de estímulos.

“Adolescentes são particularmente vulneráveis à lógica de curtidas e comentários. O que parece apenas uma brincadeira inofensiva pode ter impacto real na autoestima e no bem-estar psicológico”, explicou a psiquiatra Carmita Abdo, em entrevista à Folha de S. Paulo.

Outro efeito preocupante é o empobrecimento das relações interpessoais. Ao preferirem interações virtuais, muitos jovens perdem a prática do contato olho no olho, da empatia e da escuta ativa. Professores relatam que os alunos conversam menos entre si, demonstram menos interesse em atividades coletivas e apresentam dificuldade de trabalhar em grupo — habilidades fundamentais para a vida em sociedade e para o mercado de trabalho.

A falta de conhecimento sobre a proibição do uso de celulares nas escolas, revelada pela pesquisa da Datafolha em parceria com o Instituto Alana, também escancara a necessidade de um debate mais profundo sobre o papel das tecnologias na educação.

“Não se trata de demonizar o celular, mas de reconhecer que o uso livre, sem orientação e sem limites, está produzindo efeitos negativos. Precisamos de um uso consciente e contextualizado”, defende Mariana Luz, diretora do Instituto Alana, organização voltada para os direitos da infância.

Diversos países vêm adotando medidas firmes, como a França, que desde 2018 proíbe o uso de celulares em escolas primárias e secundárias. No Brasil, estados como São Paulo e Rio Grande do Sul discutem projetos semelhantes. Contudo, especialistas defendem que apenas a proibição não resolve o problema.

Entre as soluções apontadas estão:

Campanhas educativas com alunos e famílias, explicando os riscos e os impactos do uso excessivo;
Aulas sobre cidadania digital, ensinando a usar a tecnologia de forma ética, segura e produtiva;
Apoio psicológico nas escolas, com espaços de escuta e acolhimento emocional;
Uso pedagógico planejado da tecnologia, com atividades em que o celular é aliado, e não vilão.

O celular, ferramenta indispensável na vida moderna, precisa encontrar seu lugar adequado também na educação. O que está em jogo é mais do que disciplina escolar: são as bases do desenvolvimento cognitivo, emocional e social das novas gerações.

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