Livro que celebra força e resistência feminina e denuncia opressões vai ser lançado em Petrolina

O livro “Fogo – porque se gritar ‘socorro!’ ninguém vem” será lançada no dia 04 de maio, às 19h, na Casa do Cordel Mulheres Cordelistas, localizado na Rua Gengibre, nº 138, no bairro Cosme e Damião, em Petrolina, Sertão de Pernambuco.

A obra tem organização de Izabel Nascimento e Natália Siufi, que escreve metade do livro, e a outra parte tem autoria de 20 coautoras, entre elas, a poeta cordelista petrolinense, Graciele Castro. O projeto itinerante já foi divulgado em outros estados do Brasil.

“A ideia inicial era um livro meu, com cordéis e poemas, porque muitas pessoas me cobravam essa publicação. Sempre escrevi e nunca tinha algo que reunisse esses poemas. Mas quando fui escrevendo o projeto, ‘é escuro!’, me veio a ideia do Movimento Cordel Sem Machismo, porque minha criação é sempre muito ligada à política e aos movimentos sociais; então pensei: – não posso fazer isso sozinha”, conta Natália.

A obra reúne versos escritos por mulheres de diversas regiões do país, destaca a arte popular do cordel e aborda diferentes experiências femininas. A primeira parte reverencia a arte popular, nordestina e brasileira do cordel, abordando mulheres com histórias variadas, incluindo cuidadoras, professoras e mulheres que enfrentaram desafios com coragem.

Graciele Castro, coautora e organizadora do evento em Petrolina, contou que no cordel ‘Saravá as Marias’, ela faz uma homenagem à sua avó e bisavó, já falecidas, e à sua esposa, que a acompanha em suas lutas diárias. Segundo ela, ‘Saravá as Marias’ é dedicado a todas as mulheres que estão lutando diariamente, marcando e encantando a sua existência.

“O Cordel ‘Saravá as Marias’, em versos, trago in memória a minha bisavó materna, Maria Otávio e minha avó paterna, Maria Caetano, essas duas mulheres que existiram e que até a mim chegaram apenas os seus nomes. Inquieta e incomodada com isso, sentindo-me que espiritualmente sou conectada a elas, a minha missão de vida tem as raízes de minhas ancestrais. Com alegria dou um Saravá as Marias do Cordel Brasileiro”, detalha a cordelista.

A segunda parte do livro, assinada por Natália Siufi e seus heterônimos, denuncia questões como machismo, fascismo e injustiças sociais. E é dedicado à Julieta Ines Hernández Martinez, conhecida como “Palhaça Jujuba”, que viajava pelo Brasil em uma bicicleta e foi morta no interior do Amazonas.

“Quando estávamos pra fechar o livro ela foi assassinada e isso mexeu demais comigo e com todas nós. Não é mais possível que brutalidades assim aconteçam e da forma como foi e com quem foi, tudo muito simbólico, representativo de quem somos e de que país é esse que é um dos mais violentos contra mulher de todo mundo. Estamos agora todas nós voltadas pra que ela não seja esquecida. Só assim conseguiremos derrubar esse patriarcado que nos mata e silencia diariamente”, disse Natália.

Fogo – porque se gritar ‘socorro!’ ninguém vem”, tem xilogravuras de Nireuda Longobardi, arte e diagramação de Bella Tozini. Com prefácio de Zênite Astra, a coletânea de poemas traz como inspiração o texto “Oração das Três Marias ou Ladainha da Senhora de Si”, da poeta e escritora Luciene Nascimento. E tem coautoria das poetas: Alaíde Souza Costa, Ana Flor de Carvalho, Ana Santana do Nascimento, Anna Zêpa, Anne Karolynne, Daniela Bento, Graciele Castro, Graziela Barduco, Isis da Penha, Janete Lainha, Julie Oliveira, Keyane Dias, Klícia Araújo, Lília Diniz, Lu Vieira e Zênite Astra. Nele as escritoras promovem um diálogo entre raiva e gentileza, levando à reflexão sobre a vida como um constante movimento de transformação.

Para Graciele, foi essencial compor um livro com outras mulheres, abordando temas tão relevantes voltados à mulher, além de denunciar o machismo, num momento em que os dados da violência contra a mulher continuam alarmantes em Petrolina e em todo o Brasil.

“A organização das Mulheres na Literatura, através de publicações coletivas, tem sido um caminho fundamental, para denunciar questões como o machismo, mas também para que possamos, nós mesmas, falar sobre nossas existências e saberes. Por muito tempo, a literatura de cordel ocultou a autoria feminina e a figura da mulher contida nos versos escritos por homens é geralmente estereotipada. Organizar um trabalho em que nós conseguimos dizer sobre nós mesmas, é essencialmente, garantir a nossa presença no mundo, através da escrita”, disse Izabel Nascimento.

O evento vai contar com a presença da poeta Graciele Castro, a participação da Cordelista e professora Isis da Penha, além de outras coautoras e mulheres que vêm de Sergipe. Na ocasião, também será ofertado o “Caldinho com Cordel tomou-rimou”. Mais informações podem ser adquiridas na rede social do Centro Cultural Mulheres Cordelistas.

Fonte G1 Petrolina

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