Microcefalia talvez não seja a única consequência da infecção pelo zika vírus nos bebês durante a gestação. Um estudo publicado na revista Ultrasound in Obstetrics & Gynecology da diretora do Instituto de Pesquisa Professor Joaquim Amorim Neto Adriana Melo e de Ana Bispo, do Instituto Oswaldo Cruz, relata a ocorrência de dois casos em que, além de microcefalia, pacientes apresentavam outra má-formação rara, a artrogripose, uma doença que se caracteriza por graves deficiências nas articulações. “Em toda minha vida havia visto dois casos. Desde setembro, foram outros quatro. Vi que havia algo errado”, conta Adriana.
Dois dos casos se tratavam de bebês que morreram pouco depois de nascer. Outros dois são fetos. Todos tiveram diagnóstico de microcefalia. “Em dois casos já tivemos a confirmação da infecção por zika”, completou. A pesquisadora diz que ainda não é possível afirmar se a artrogripose é consequência da infecção por zika. “É cedo para atribuirmos causa e consequência. Mas o importante é que todos os profissionais fiquem alertas”, completou.
Adriana observou que, além de problemas nas articulações, há um caso, que está ainda em investigação, de problemas cardíacos. O professor da Universidade Federal de Pernambuco Carlos Brito afirma que no Estado também há relatos de casos de crianças com problemas na articulação, cujas mães tiveram, durante a gestação queixas de sintomas semelhantes aos de zika.
Tanto Adriana quanto Brito defendem uma mudança no tratamento da doença para “zika congênita”, em vez de microcefalia provocada por zika. “É o mesmo que ocorre com outras síndromes, como sífilis congênita”, disse o professor. “Talvez microcefalia seja o sintoma mais importante, mas não o único. A mudança da denominação ajudaria profissionais a ter isso em mente”, completou Brito. Adriana relata que a microcefalia em bebês cujas mães apresentaram zika durante a gestação tem características bem diferentes da microcefalia clássica. “Os casos são mais graves.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.