Chega junho, e Petrolina troca o calor do sol sertanejo pelo calor humano que só o São João sabe acender. É quando o coração da cidade bate no compasso do forró, e o som da sanfona se mistura ao barulho dos fogos, aos passos apressados no calçadão e às conversas animadas nas barracas de milho e pamonha.
Os céus se enfeitam com balões, as ruas com bandeirolas, e a alma da cidade se enche de cor e esperança. Mas o que talvez poucos enxerguem por trás de tanta beleza e tradição é o que pulsa nos bastidores: o São João de Petrolina é muito mais do que festa — é trabalho, renda, economia viva.
Lá no Pátio Ana das Carrancas, onde as estrelas parecem descer do céu para dançar com o povo, sobem ao palco artistas consagrados e talentos da terra. Mas, por trás de cada acorde, existe um vendedor de espetinho que abasteceu a geladeira com sacrifício, uma costureira que virou a noite finalizando vestidos de chita, um motorista que ganhou corrida dobrada, e uma camareira que sorriu mais ao ver o hotel lotado. Junho, por aqui, é salário, reforço de renda, esperança vestida de chapéu de palha.
É impressionante: mais de um milhão de pessoas cruzam as avenidas da cidade nesses dias. Vêm de perto e de longe, com malas, celulares prontos para registrar, olhos brilhando e bolsos dispostos a consumir. O comércio sente — não só no bolso, mas no peito. As vendas aumentam, os brindes saem das prateleiras, e os sorrisos se multiplicam nas vitrines.
Petrolina, que já é reconhecida pelas frutas e pela força do seu povo, vira também vitrine de cultura. Porque aqui se vive o São João com alma, com verdade, com identidade. E a festa não aquece apenas corações — ela aquece fogões, saldos bancários e sonhos.
Ontem mesmo, andando pela cidade, vi o comércio de portas fechadas — parecia dia de descanso. Mas bastou olhar para os restaurantes: lotados. Fila de espera em quase todos. Gente rindo, brindando, comemorando. É como se a cidade respirasse alegria e devolvesse em consumo. A economia girando na prática, como num livro vivo de economia popular. Uma verdadeira aula sobre a divisão da riqueza em movimento.
E eu, que amo essa terra, confesso: fico feliz em ver a cidade pulsar. Fico feliz em saber que, mesmo entre fogueiras e sanfonas, há gente se sustentando, sonhando, conquistando.
Porque por aqui, festa boa é aquela que deixa saudade… mas também deixa renda, emprego, memória afetiva e dignidade. Junho passa, sim — mas deixa seu legado. E quem vive Petrolina sabe: quando o forró começa a tocar, não é só o corpo que se mexe — é toda uma cidade que dança junta, com fé, orgulho e gratidão.