A cada 15 minutos, uma criança é vítima de abuso sexual no Brasil. O dado, assustador e vergonhoso, consta no mais recente Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2023. O país ocupa o segundo lugar no ranking mundial de exploração e abuso sexual infantil, com mais de 500 mil casos notificados. Pior ainda: estima-se que apenas 7% dos casos sejam de fato denunciados. O silêncio, a impunidade e o medo são cúmplices desse crime hediondo, que destrói vidas ainda em formação.
Os números escondem histórias de dor que, na maioria das vezes, acontecem onde deveria haver segurança: dentro de casa. Segundo o Ministério da Saúde, 68% dos agressores são familiares ou pessoas próximas à vítima. E 70% dos abusos ocorrem no próprio lar. As meninas são as principais vítimas, embora meninos também sofram – muitas vezes em silêncio, devido ao estigma.
É preciso compreender que o abuso sexual infantil vai muito além da agressão física. Fazer uma criança assistir a conteúdo pornográfico, manipulá-la emocionalmente, expô-la a situações constrangedoras, tudo isso também é abuso. A perversidade não está apenas no ato explícito, mas em todo e qualquer comportamento que instrumentalize a inocência da criança em prol do prazer de um adulto.
O mês de maio é marcado pela campanha Maio Laranja, um movimento nacional que busca conscientizar e mobilizar a sociedade para a prevenção do abuso e da exploração sexual de crianças e adolescentes. Mas essa não pode ser uma luta de um mês. É uma causa permanente, que exige atenção diária, ação coordenada e responsabilidade coletiva.
A proteção da infância não é responsabilidade apenas dos pais ou cuidadores. Cada adulto tem o dever moral e legal de estar atento. Se você suspeita de um caso de abuso e não denuncia, pode responder judicialmente por omissão de socorro. A omissão alimenta o ciclo da violência. O silêncio é cúmplice da dor.
Precisamos falar sobre esse tema, romper tabus, educar nossas crianças, capacitar profissionais da saúde, da educação e da segurança pública. É urgente construir uma cultura de acolhimento, escuta e proteção. O Brasil não pode mais conviver com a naturalização da violência sexual infantil. Proteger a infância é garantir o futuro.
Maio Laranja não é apenas uma campanha – é um grito de socorro em nome de milhares de vozes que ainda não conseguem falar. Que a sociedade ouça, acolha e aja. Porque uma infância violada é uma vida marcada para sempre.
Waldiney Passos