EDITORIAL: DOUTOR PAULO DE SOUZA COELHO: O LEGADO DE UM INDUSTRIAL

O destino tem suas reviravoltas bruscas. Quando o coronel Clementino Coelho perdeu a vida em um acidente automobilístico na estrada para Salvador, em 1954, seu filho, Paulo de Souza Coelho, viu-se diante de um vácuo irremediável, mas também de uma clareza avassaladora sobre seu papel. O jovem empreendedor, que sempre fora próximo do pai, não hesitou: Petrolina precisava ser mais do que uma cidade ribeirinha à mercê do São Francisco. Precisava ser grande. Precisava ser industrializada.

Na década de 1960, recém-formado em Economia pela Universidade Federal da Bahia, Paulo Coelho iniciou sua jornada transformadora. Com espírito ousado, fundou as Indústrias Coelho S/A, introduzindo um novo capítulo na economia do Sertão. Era um movimento sem retorno: Petrolina entrava para o mapa da industrialização nordestina. O couro, que antes era apenas um produto de exportação, passou a ser um vetor de crescimento.

Mas sua ambição ia além. Com a visão aguçada de um otimista estratégico, apostou no semiárido e na força das riquezas naturais renováveis. O óleo de mamona, antes um produto subestimado, foi elevado ao patamar de commodity exportada até para a Rússia comunista, sob a audácia capitalista do empresário.

O Doutor Paulo Coelho não apenas pensava em indústria, mas no avanço do conhecimento. Foi um dos entusiastas da formação de uma comunidade científica em Petrolina, influência que mais tarde se materializaria na criação da Embrapa, voltada ao estudo do bioma da Caatinga.

Quando o debate sobre infraestrutura ganhou espaço, lá estava ele. Lutou incansavelmente pela instalação de rodovias estratégicas ligando Petrolina a Salvador e Recife, pelo fortalecimento do transporte fluvial e pela diversificação dos modais de transporte. A cidade, antes distante dos grandes centros, agora estava conectada.

O auge dessa trajetória viria nos anos 1970, com a consolidação da agricultura irrigada como vetor de desenvolvimento. Em meio à crise mundial do petróleo de 1973, quando tantos vacilaram, Doutor Paulo Coelho manteve-se firme, apostando na resiliência da sua cidade e na força do Sertão produtivo.

Paulo de Souza Coelho não apenas vislumbrou Petrolina como uma potência — ele a fez ser. Sua trajetória é a prova de que o progresso não ocorre por acaso; ele é arquitetado por mãos que acreditam no impossível e que desafiam as adversidades do tempo.

Na política, foi fundador histórico do PMDB de oposição à ditadura tendo seu irmão como grande chefe político dos militares de PE. Rompeu com os irmãos aliando-se politicamente ao ex-governador Miguel Arraes e Jarbas Vasconcelos. Foi candidato a vice-governador em 1990 na chapa de Jarbas do PMDB. Migrou depois para o PSB de Arraes.

E assim, fica registrado o legado de um homem que transformou sonhos em realidade e fez do Sertão um espaço de inovação e crescimento. A história do Doutor Paulo de Souza Coelho é um testemunho do poder da visão, da perseverança e da crença inabalável no potencial de sua terra.

Petrolina, rica e grande, reflete até hoje o espírito do homem que a reinventou.

Por Rinaldo Remígio 

Administrador, contador, historiador e professor universitário

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