Por Ney Vital, Jornalista e estudioso da carreira de Luiz Gonzaga
O Ritmo de contágio da Covid-19 sobe em Exu. Sanfona, Zabumba e Triângulo por instantes estão calados na Semana do Forró. “Numa tarde bem tristonha gado muge sem parar lamentando seu vaqueiro que não vem mais aboiar…Não vem mais aboiar…Tão dolente a cantar Tengo, lengo, tengo, lengo Tengo, lengo, tengo”.
Os versos acima são de autoria de Nelson Barbalho, A Morte do Vaqueiro, toada interpretada por Luiz Gonzaga. Na semana do aniversário do rei do Baião, a poesia traduz o sentimento da cidade de Exu Pernambuco, Chapada do Araripe. A terra de Lua que tradicionalmente recebe centenas de pessoas, denominadas “Gonzagueanas e Gonzagueanos”, que frequentam a cidade para cantar os parabens de Luiz Gonzaga, no dia 13 de dezembro, aos 108 anos de nascimento do mestre da sanfona , devido a pandemia covid-19 não estão presentes.
Os principais pontos turísticos da cidade, Parque Asa Branca, Fazenda Araripe (Igreja São João Batista) estão quase vazias. Neste domingo (13) a sanfona de Targino Gondim às 18hs, na Hora do Angelus, vai tocar em sentimento as pessoas que estão doentes infectadas pela Covid-19 e as que “partiram para o sertão da eternidade”.
O jornalista Ney Vital conversou com José Praxedes dos Santos. Ele não respondeu a pergunta se Exu já tinha vivido um momento assim: Seu “Zé Praxedes chorou. Zé Praxedes nasceu em 1932. Tem a vida marcada pelo vínculo com a família de Luiz Gonzaga. Vaqueiro. Durante décadas traballhou prestando serviços a “Seu Januário”, pai de Luiz Gonzaga. Praxedes é citado como sendo um “exímio dançado de forró e homem justo”, no livro da professora Thereza Oldam Alencar, “Igreja de São João Batista do Araripe-Exu, Pernambuco-Sesquicentenário (1868-2018).
“Seu Praxedes é um dos Patrimônios Vivos da Cultura Gonzagueana. Seu universo é Exu, o Parque Asa Branca, o Araripe de São João Batista, o Sítio Ubatuba e Monte Belo, a Fazenda Caiçara, a Igreja de São João Batista, o Parque Aza Branca…”Seu Praxedes ” está presente em todos os momentos. É amor explícito, sem palavras. Sua presença tem voz. Cada pedaço desse mundo é Exu, os mistérios encantados da Chapada do Araripe”.
Na live na Cabana do Rei, apresentado pelo radialista Laetson Silva, transmitido pela Rádio Bitury (Belo Jardim) e Acauã Fm (Exu), o sanfoneiro e cantor Joquinha Gonzaga, sobrinho de Luiz Gonzaga, lamenta o momento vivido nestes 108 anos de Luiz Gonzaga. “Tudo cancelado. Nossa feijoada, festas no parque Asa Branca, na Praça Central e Fazenda Araripe. Prejuízo enorme para o comércio da cidade. É um momento muito difícil para Exu. Vamos aguarda que tudo isto passe e para o ano a gente se encontrar e possa abrar e festejar ao som da sanfona”, comenta.
Nascido no dia 13 de dezembro de 1912, a data, hoje considerada Dia Nacional do Forró, todos os anos, sempre foi motivo de alegria acompanhada do ritmo do forró e da maior indústria, herança deixada por Luiz Gonzaga: a sanfona, o triangulo e a zabumba.
Targino Gondim explica que a “sanfona é considerador um dos instrumento mais fascinantes. A sanfona fascina pela sua sonoridade, pela diversidade de modelos e gêneros, mas seu encanto transcende o poder da música, porque desperta um afeto misterioso. Talvez pelo fato de ficar junto ao coração do sanfoneiro, ou, quem sabe, por ser um instrumento que é abraçado ao se tocar. Ou ainda, por ser um instrumento que respira. O fato é que a sanfona une as pessoas e é amada por todos”
No domingo dia 13 dezembro Targino Gondim que está presente em Exu, realiza a partir das 14hs uma live Canções de Luiz. Da Igreja da Matriz, Bom Jesus dos Aflitos será transmitida uma Missa às 17hs. A missa será celebrada pelo Padre Natel.
Mas os tempos atípicos de 2020 não calam a sanfona. Em homenagem ao Rei do Baião, Luiz Gonzaga, será puxada em centenas de eventos on line em diversos locais deste Brasil. Rádio Usp São Paulo, Marquinhos Café, Flávio Leandro, Flávio Baião. Em homenagem aos 108 anos do nascimento de Luiz Gonzaga, será realizada uma missa neste domingo (13), às 18h, com transmissão virtual simultânea por meio das mídias sociais da Colônia Gonzaguiana de Teresina (grupo de fãs do Rei do Baião, músicos e pesquisadores).
“A missa de Santa Luzia já é uma tradição cultural do nosso Estado. É sempre muito esperada pelos fãs de Luiz Gonzaga e fiéis de Santa Luzia. É um momento para reverenciar, agradecer, celebrar nossas raízes culturais e religiosas, e, esperançar dias melhores. Mesmo com dificuldades, não poderíamos deixar de organizar esse evento, que seguirá protocolos de segurança especiais para assegurar a saúde dos fiéis gonzaguianos”, explica Wilson Seraine, produtor da Missa de Santa Luzia e Presidente da Colônia Gonzaguiana.
Este ano devido o aumento no ritmo do contágio da Covid-19, os abraços e aconchego buliçoso dos casais dançando forró não acompanha as festividades do aniversário de Luiz Gonzaga, rei do Baião. O mestre da sanfona completaria se fosse vivo fisicamente 108 anos debnascimento.
O Parque Asa Branca depois da morte de Luiz Gonzaga (02 de agosto de 1989) transformou-se em uma espécie de local sagrado para a imensa legião de admiradores do Rei do Baião. Na Fazenda Araripe, distante cerca de 12 km do centro de Exu, tudo é sentido e o sentimento de pertercimento, afinal, ali nasceu Luiz Gonzaga. O cheiro do mato e da última chuva. O canto dos pássaros, árvores e o rio Brígida.
O professor José Mário Austregesimo, diz que “tudo em Exu traz notícias novas de Luiz Gonzaga. Tudo fala. Temos sempre a sensação de que, a qualquer momento, o mestre Lua vai sair da sua casa, com aquele jeito de andar, de falar, de cumprimentar o povo que passa”.
Aos 108 anos fica a certeza: “Luiz Gonzaga não morreu! Em sua obra Luiz Gonzaga está vivo e vive no sertão, no pampa, na cidade grande, na boca do povo, no gemer da sanfona, no coração e na alma da gente brasileira, pois, como disse Fernando Pessoa, “quem, morrendo, deixa escrito um belo verso, deixou mais ricos os céus e a terra, e mais emotivamente misteriosa a razão de haver estrelas e gente”.
Por Ney Vital, Jornalista.