Nesta quinta-feira (31), o 4º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro condenou os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, confessos de assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes. Ronnie foi condenado a 78 anos, 9 meses e 30 dias de prisão, enquanto Élcio recebeu uma pena de 59 anos, 8 meses e 10 dias.
O júri teve os réus culpados por duplo homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emboscada e recurso que dificultou a defesa das vítimas), tentativa de homicídio contra Fernanda Chaves, assessora de Marielle, e receptação do veículo utilizado no crime, que ocorreu em 14 de março de 2018.
Os promotores argumentaram que a motivação do crime estava ligada a questões fundiárias e disputas políticas, especialmente em relação ao Projeto de Lei (PL) 174/2016, que visava formalizar um condomínio na Zona Oeste do Rio, em que Marielle se opunha ao grupo político do então vereador Chiquinho Brazão, irmão de um dos acusados de ser mandante do crime.
Durante o julgamento, tanto os promotores quanto as defesas dos réus consideraram suas argumentações. Os promotores sustentaram que os réus mataram Marielle por motivos financeiros e desejaram eliminar testemunhas. Eles enfatizaram que ambos eram conscientes do que estavam fazendo, uma vez que a morte de Marielle foi encomendada devido ao seu papel como vereadora e defensora de causas sociais.
A defesa de Ronnie Lessa argumentou que, sem sua confissão, seria difícil condená-lo apenas com as provas coletadas. Eles planejaram minimizar a gravidade dos motivos que levaram ao crime, alegando que Lessa pretendia apenas matar Marielle, não as outras pessoas no carro. Já a defesa de Élcio acompanhou sua participação, mas negou que tivesse conhecimento prévio dos interesses de Ronnie.
O julgamento teve um impacto significativo, ressaltando questões raciais e sociais, visto que Marielle era uma mulher negra que incomodava as estruturas de poder.
A defensora pública Daniele Silva e o MPRJ destacaram a importância de consideração do contexto racial do crime, mesmo diante de um júri composto predominantemente por homens brancos.
O caso ainda envolve outros réus, incluindo os irmãos Brazão e o delegado Rivaldo Barbosa, que são acusados de interferir nas investigações. A condenação de Ronnie e Élcio é vista como um passo importante para a justiça em um caso que mobilizou a sociedade brasileira e levantou o discurso sobre violência política e direitos humanos.