Os mais diversos temas relacionados à questão racial no Brasil estiveram em debate no “1º Simpósio sobre Questão Racial: por que a reparação à população negra continua necessária?”, realizado na Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) esta semana.
O evento, encerrado nesta quinta-feira (15), trouxe convidados de vários órgãos públicos, instituições de ensino e pesquisa de todo o país e empresas privadas para debater políticas de reparação histórica, valorização da população negra, impacto das ações afirmativas, desafios para o futuro e para compartilhar experiências já implementadas com o fim de combater o racismo estrutural nas instituições.
O simpósio teve início com a outorga do título de Doutora Honoris Causa in memoriam à artista Ana Leopoldina dos Santos, a Ana das Carrancas, na manhã de terça-feira (13), no Cineteatro do Campus Sede, em Petrolina (PE).
A também artista Maria da Cruz dos Santos, a Maria D’Ana, filha da homenageada, representou a família e recebeu o diploma com o título de Doutora Honoris Causa in memoriam para Ana das Carrancas das mãos do reitor Telio Nobre Leite.
Maria D’Ana esteve acompanhada da irmã Ângela Lima e da neta de Ana das Carrancas Raquel Marques, que é discente do curso de Licenciatura em Artes Visuais da Univasf. “Não tô cabendo em mim de tanta felicidade. É uma grande satisfação, como filha, receber essa homenagem para minha mãe”, disse Maria D’Ana.
O professor do Colegiado de Zootecnia Rafael Torres, representando a Seção Sindical dos Docentes da Univasf (Sindunivasf), que propôs a homenagem junto ao Conselho Universitário (Conuni), destacou em seu discurso panegírico que, ao conceder o título de Doutora Honoris Causa à artista, a Univasf está também afirmando “que a arte é conhecimento, que o barro é arte, que a memória é ciência”.
Para ele, a homenagem representa também um chamado à reparação histórica. “Que esse momento inserido no 1º Simpósio sobre Questão Racial também seja um chamado para que sigamos firmes por reparação do reconhecimento por justiça histórica à população negra. Ana das Carrancas vive. Vive no barro. Vive nas mãos das suas filhas. Vive na arte do povo. E agora vive também na história acadêmica da nossa Universidade”, disse.
O reitor Telio Nobre Leite destacou o grande legado deixado por Ana das Carrancas, cuja arte levou o Vale do São Francisco e a cultura sertaneja para o mundo. “É uma homenagem muito importante que a Univasf faz à artista Ana das Carrancas e a toda a sua família de artistas, que hoje dá continuidade ao trabalho iniciado por ela”, afirmou.
A coordenadora do “1º Simpósio sobre Questão Racial: por que a reparação à população negra continua necessária?”, professora Ana Luisa Araújo de Oliveira, lembrou que o evento foi planejado para o dia 13 de maio, data que marcou os 137 anos da Lei Áurea.
“Foi uma falsa abolição à população negra e uma promessa de liberdade não concretizada aos meus ancestrais. Hoje, na Univasf, estamos discutindo a reparação, que ainda não veio”, disse ela em seu discurso durante a solenidade de abertura.
Ela relembrou a trajetória e as ações do Observatório Opará, grupo de pesquisa criado há cerca de um ano cujo trabalho se tornou referência em todo o país no que se refere a análises sobre o cumprimento da Lei Nº 12.990/2014 e no diálogo com instituições públicas sobre o assunto.
A programação do “1º Simpósio sobre Questão Racial: por que a reparação à população negra continua necessária?” prosseguiu durante a terça e a quarta-feira (14) com a realização de palestras e diversas mesas redondas, que colocaram no centro do debate temáticas relacionadas à lei de cotas, desafios para o futuro das ações afirmativas na iniciativa privada e no serviço público e os aspectos legais da reparação à população negra, entre outros assuntos.
Também houve a apresentação de trabalhos no formato de banner e várias apresentações culturais, entre elas o Grupo Encrespa, do Colégio Codefas, e o Maracatu de Baque Virado Nação Salgueirense. Durante o dia de hoje (15), foram realizados cursos, minicurso e oficinas, encerrando a programação do evento.
O simpósio foi realizado pelo Observatório das Políticas Afirmativas Raciais (Observatório Opará), em parceria com a Seção Sindical dos Docentes da Univasf (Sindunivasf) e a Reitoria da Univasf. Também teve a participação de outros parceiros. O evento contou com transmissão ao vivo da TV Caatinga e permanece disponível para visualização no canal da TV no YouTube.