O Plano de Ação Nacional (PAN) Herpetofauna do Nordeste, voltado à proteção de répteis e anfíbios ameaçados da região, entra em seu terceiro ciclo com novos objetivos e desafios.
Entre os dias 9 e 13 de junho, cerca de 70 especialistas participaram de uma oficina estratégica realizada na Universidade Federal do Piauí (UFPI), em Teresina, promovida pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios (RAN/ICMBio). A reunião serviu para definir metas, ações e cronogramas para os próximos cinco anos.
Representando a Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), participaram da oficina os docentes Leonardo Barros Ribeiro, do Colegiado de Ciências Biológicas e responsável pela coleção de Herpetologia do Museu de Fauna da Caatinga, e Gabriela Felix Nascimento Silva, do Colegiado de Zootecnia. Ambos são vinculados ao Centro de Conservação e Manejo de Fauna da Caatinga (Cemafauna), que contribuiu com propostas e estratégias para o plano.
O PAN é uma iniciativa do governo federal destinada a organizar esforços para a conservação de espécies ameaçadas. Neste ciclo, o plano abrange 77 espécies-alvo da Herpetofauna nordestina, com registros de ameaça tanto em nível nacional quanto estadual. A oficina também consolidou o grupo de trabalho técnico que acompanhará a execução do plano até 2029.
Um dos principais avanços desta edição foi a inclusão do lagartinho-da-areia (Nothobachia ablephara) entre as espécies prioritárias. A proposta de inserção foi apresentada pelo professor Leonardo Ribeiro, destacando a urgência de medidas de conservação voltadas a esse pequeno réptil endêmico da Caatinga. Com apenas 6 centímetros de comprimento, o lagartinho habita solos arenosos e leva uma vida parcialmente subterrânea. Sua estrutura corporal adaptada – membros reduzidos, ausência de pálpebras e ouvido externo – o torna altamente especializado, mas também sensível a alterações ambientais.
O animal, já considerado “Vulnerável” na Bahia e “Em Perigo” em Pernambuco, enfrenta ameaças como mineração, instalação de empreendimentos eólicos e solares, turismo desordenado e avanço urbano e agrícola. Além disso, estudos recentes indicam que mudanças climáticas podem agravar ainda mais a perda de habitat, reduzindo as chances de sobrevivência da espécie.
Com a inclusão oficial no PAN Herpetofauna, o lagartinho-da-areia passa a contar com ações específicas para mitigação de impactos, preservação e recuperação de seus ambientes naturais. A medida fortalece o compromisso com a biodiversidade da Caatinga e reforça o papel da ciência e da pesquisa na formulação de políticas públicas.
A nova fase do PAN será formalizada por portaria do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e representa um passo importante na proteção de ecossistemas singulares do Nordeste. Com a contribuição de instituições como a Univasf e o Cemafauna, o plano amplia a visibilidade de espécies pouco conhecidas, mas fundamentais para o equilíbrio ecológico da região.